Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento

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ISSN 1517-4964
Dezembro, 2007
Passo Fundo, RS

Foto: Paulo Kurtz
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Sistemas de manejo do solo e de rotação/sucessão sobre o rendimento e outras características agronômicas de trigo

Henrique Pereira dos Santos1, , Julio Cesar Barreneche Lhamby2, Silvio Tulio Spera3

Introdução

Os diferentes modelos de preparo de solo podem afetar o rendimento de grãos de culturas e as características edáficas do solo. A degradação da estrutura do solo pelo manejo inadequado pode afetar o desenvolvimento de plantas. O manejo inadequado, como por exemplo, o preparo convencional, tem sido apontado como um dos principais indicadores de degradação do solo e causa de decréscimo do rendimento de grãos das culturas. A formação de camada compactada pode ser conseqüência da intensidade de revolvimento do solo ou trânsito de máquinas, tipo de equipamento, dos sistemas de manejo do solo, da presença de resíduos vegetais e das condições hídricas do momento de preparo (Stone & Silveira, 2001).

Para minimizar a degradação do solo e tornar viável o cultivo das espécies indica-se o manejo conservacionista que demanda menor revolvimento do solo possível, aliado a manutenção da cobertura com palha. Esses sistemas, por sua vez, podem afetar positivamente caraterísticas químicas, físicas e biológicas do solo com reflexo no rendimento de grãos das espécies (Da Ros et al., 1997; Franchini et al., 2000). Apesar disso, existem relativamente poucos trabalhos de longa duração, envolvendo espécies tanto de inverno como de verão, manejados sob diferentes sistemas de rotação de culturas (Hernánz, et al., 1995; Fontaneli et al., 2000). As informações relativas aos componentes do rendimento de espécies sob sistemas de manejo de solo são muitos escassas na literatura.

O presente trabalho teve por objetivo avaliar os efeitos de sistemas de manejo do solo e de rotação/sucessão de culturas no rendimento de grãos e características agronômicas de trigo.

Material e Métodos

O ensaio é conduzido na Embrapa Trigo, no município de Passo Fundo, RS, desde abril de 1986, em solo classificado como Latossolo Vermelho Distrófico típico. Os resultados apresentados, nesse trabalho dizem respeito ao período de 1998 a 2002.

Foi usado delineamento experimental de blocos ao acaso, com parcelas subdivididas e três repetições. A parcela principal foi constituída pelos sistemas de manejo de solo, e as subparcelas, pelos sistemas de rotação de culturas. A parcela principal media 360 m2 (4 m de largura por 90 m de comprimento), e a subparcela, 40 m2 (4 m de largura por 10 m de comprimento). Os tratamentos foram constituídos por quatro sistemas de manejo de solo — 1) plantio direto, 2) preparo de solo com implemento de cultivo mínimo JAN, 3) preparo convencional de solo com arado de discos mais grade de discos e 4) preparo convencional de solo com arado de aivecas mais grade de discos — e por três sistemas de rotação de culturas: sistema I (trigo/soja), sistema II (trigo/soja e ervilhaca/milho ou sorgo) e sistema III (trigo/soja, aveia preta ou aveia branca/soja e ervilhaca/milho ou sorgo). As cultivares de trigo usadas foram Embrapa 16, em 1998, BR-49, em 1999 e BR-179, de 2000 a 2002.

Em novembro de 1985, antes da instalação do experimento, foram realizadas a descompactação do solo e a correção da acidez com calcário, de acordo com os resultados da análise de solo da área experimental. As amostragens de solo, para avaliação dos teores de nutrientes e do nível de matéria orgânica, foram realizadas anualmente em todas parcelas, após a colheita das culturas de verão na profundidade de 0-20 cm.

A semeadura, o controle de plantas daninhas e os tratamentos fitossanitários, foram realizados conforme indicação para cada cultura, e a colheita de grãos foi efetuada com colhedora especial para parcelas experimentais. Foram efetuadas as seguintes avaliações: população inicial, população final, peso do hectolitro, altura de plantas, rendimento de grãos (com umidade corrigida para 13%), peso de 1.000 grãos e componentes do rendimento de trigo (número de espigas/planta, número de espiguetas/planta e peso de grãos/planta). Os componentes do rendimento foram avaliados a partir da coleta, ao acaso, de 20 espigas de trigo por parcela.

A avaliação do grau de severidade de doenças do sistema radicular de trigo (mal-do-pé, causado por Gaeumannomyces graminis var. tritici, e podridão-comum, causada por Bipolaris sorokiniana) foi realizada de acordo com o método descrito por Reis et al. (1985). Os dados originais foram transformados em arcoseno para análise da severidade de doenças do sistema radicular.

Foi efetuada análise de variância do rendimento de grãos, de algumas características (número de espigas/planta, número de espiguetas/planta, peso de grãos/planta, peso de 1.000 grãos, peso do hectolitro e altura de plantas) e da severidade de doenças do sistema radicular de trigo (dentro de cada ano e na média conjunta dos anos de 1998 a 2002). Considerou-se o efeito tratamento (diferentes sistemas de manejos de solo e sistemas de rotação de culturas) como fixo, e o efeito ano, como aleatório. As médias foram comparadas entre si, pelo teste de Duncan, ao nível de 5 % de probabilidade.

Os valores médios – referentes aos meses de junho a outubro, da normal (1961 a 1990) e dos anos 1998 a 2002 – da precipitação pluvial, das temperaturas (mínima, média e máxima) e da unidade relativa registrados em Passo Fundo, são apresentados na Tabela 1.

Resultados e Discussão

A análise conjunta dos resultados para rendimento de grãos, população inicial, população final, número de espigas/planta, número de espiguetas/planta, peso de grãos/planta, peso de 1.000 grãos, peso do hectolitro, altura de planta e severidade de doenças do sistema radicular de trigo, no período de 1998 a 2002 mostrou significância para o fator o ano, indicando que essas características foram afetadas por variações ambientais ocorridas entre os anos (Tabela 2). Houve ainda diferença significativa entre as médias para rendimento de grãos, peso de grãos por planta, peso de 1.000 grãos, peso do hectolitro, altura de plantas e severidade de doenças do sistema radicular de trigo para os seguintes fatores: sistemas de manejo de solo, sistemas de rotação de culturas e interação ano versus sistemas de rotação de culturas. Além disso, o rendimento de grãos, peso de 1.000 grãos e altura de planta de trigo diferiram para interação sistemas de manejo de solo versus sistemas de rotação de culturas.

O rendimento de grãos, o peso de grãos por planta, o peso de 1.000 grãos, o peso do hectolitro e a altura de plantas de trigo, em todos anos estudados e média desses anos (Tabelas 3 e 4), apresentaram diferenças significativas entre sistemas de manejo de solo. O rendimento de grãos mais elevado ocorreu no sistema plantio direto e no cultivo mínimo, em comparação com preparos convencionais de solo com arado de discos ou com arado de aivecas. Isso, já havia ocorrido na primeira avaliação desse experimento referente ao período de 1988 a 1997 (Santos et al., 2000). Essas diferenças, provavelmente, podem ser atribuídas a deficiência hídrica em alguma fase crítica de desenvolvimento da cultura e ao acúmulo de nutrientes e de matéria orgânica na camada superficial do solo. No caso do plantio direto, também, pode ser explicado, em parte, pelo peso de grãos por planta e peso de 1.000 grãos de trigo, que foram mais elevados em relação aos sistemas de preparos convencionais de solo (Tabelas 3 e 4). Além disso, os sistemas conservacionistas (plantio direto e cultivo mínimo) favoreceram o peso do hectolitro e a altura de plantas de trigo mais elevados do que o preparo convencional de solo com arado de discos (Tabela 4).

O baixo rendimento de grãos de trigo em todos sistemas de manejo, no ano de 1998, foi atribuído intenso ataque de ferrugem da folha (Puccinia recondita f.sp. tritici) e de mancha salpicada da folha (Septoria tritici), enquanto que, em 2002, foi devido a incidência elevada de giberela (Gibberela zeae), uma vez que o excesso de precipitação pluvial (Tabela 1), em ambos os anos, dificultou o controle dessas doenças.

No decorrer dos anos de condução deste trabalho, a precipitação pluvial foi baixa (Tabela 1), somente no mês de agosto de 1999 (19 mm). Nos anos de 1999 e 2001 ocorreu precipitação pluvial abaixo da normal, em junho, mês de estabelecimento da cultura de trigo na região de Passo Fundo, RS (Tabela 2). Isso pode explicar, em parte, a diferença em rendimento de grãos entre sistemas conservacionistas de manejo de solo e sistemas convencionais de preparo de solo, uma vez que os primeiros apresentam condições de armazenar mais água para ser usada nos períodos críticos do desenvolvimento de trigo.

A severidade de doenças do sistema radicular de trigo (mal-do-pé e podridão-comum), em 1998 e 2001, e na média dos anos, diferiu significativamente entre sistemas de manejo de solo (Tabela 3). Os valores mais elevados manifestaram-se no sistema plantio direto e no cultivo mínimo, em relação ao preparo convencional de solo com arado de discos. Na primeira avaliação desse trabalho, de 1988 a 1997, a hipótese aceitável para esclarecer a diferença entre os sistemas conservacionistas de manejo de solo e os sistemas de preparo convencional de solo, ou seja, trigo cultivado sob cultivo mínimo, sob plantio direto e sob preparo convencional com arado de discos apresentou severidade das doenças do sistema radicular mais elevado do que trigo cultivado sob preparo convencional com arado de aivecas, seria a intensidade do revolvimento do solo provocado pelas aivecas que teriam enterrado com maior eficiência os propágulos desse complexo fitopatológico (Santos et al., 2000).

Em todos anos estudados e na média dos anos, o rendimento de grãos, peso de grãos por planta, peso de 1.000 grãos, peso do hectolitro e altura de plantas de trigo cultivado em sistemas de rotação de culturas diferiram significativamente (Tabelas 5 e 6). O sistema de rotação de culturas, com dois invernos sem trigo, mostrou rendimento médio de grãos e altura de plantas mais elevados do que sob monocultura e sob um inverno sem trigo. Por sua vez, os sistemas com um ou dois invernos sem trigo apresentaram peso de grãos por planta, peso de 1.000 grãos e peso do hectolitro superior a monocultura de trigo (Tabelas 5 e 6). Porém, o menor rendimento de grãos, peso de grãos por planta, peso de 1.000 grãos, peso do hectolitro e altura de plantas de trigo ocorreram na monocultura desse cereal.

O trigo após milho ou sorgo (com um inverno de rotação) apresentou rendimento de grãos intermediário entre a monocultura desse cereal e rotação de dois invernos (Tabela 5). Como nesse sistema havia um inverno de rotação, era esperado que o rendimento de grãos fosse semelhante ao de trigo com dois invernos de rotação.

Maior valor médio de rendimento de grãos de trigo para todos os sistemas de manejo de solo e de rotação de culturas foi observado no ano de 1999 (3.518 kg ha-1) (Tabelas 3 e 5), enquanto o menor rendimento de grãos ocorreu no ano de 1998 (1.119 kg ha-1). O melhor rendimento de grãos de trigo ocorreu nos sistemas de manejo de solo (cultivo mínimo e plantio direto), em comparação com os sistemas de preparo convencional de solo (com arado de discos ou com arado de aivecas).

Em todos os anos estudados e na média dos anos, houve diferenças significativas na severidade de doenças do sistema radicular de trigo, decorrentes dos sistemas de rotação de culturas (Tabela 4). Os valores mais elevados de severidade do mal-do-pé e de podridão-comum de raízes, ocorreram na monocultura de trigo, em comparação com um inverno e com dois invernos sem essa gramínea, demonstrando o efeito positivo da rotação com espécies não suscetíveis.

O valor mais elevado de severidade de doenças do sistema radicular de trigo, em todos os sistemas manejo ou de rotação de culturas, foi verificada no ano de 1998 (24%) (Tabelas 3 e 5). Deve ser considerado que os valores obtidos para severidade de doenças do sistema radicular de trigo, ao longo desses anos, mantiveram-se em limiar relativamente baixo, mesmo na monocultura de trigo (19%).

Conclusões

Trigo cultivado sob plantio direto e sob cultivo mínimo apresenta maior rendimento de grãos, peso de 1.000 grãos e altura de plantas do que trigo cultivado sob preparo convencional de solo com arado de discos e com arado de aivecas.

A rotação de culturas com dois invernos propicia maior rendimento de grãos e altura de plantas de trigo, em relação a monocultura e um inverno sem trigo.

A severidade de doenças do sistema radicular é maior em monocultura do que em rotação de culturas por um ou dois invernos sem trigo.

A menor massa de grãos, massa de 1.000 grãos e altura de plantas manifesta-se na monocultura, em comparação a rotação de um ou dois invernos de trigo.

 

Referências bibligráficas


1 Pesquisador(a) da Embrapa Trigo. Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. Bolsista CNPq-PQ. E-mail: hpsantos@cnpt.embrapa.br
2 Pesquisador da Embrapa Trigo. E-mail: julio@cnpt.embrapa.br
3 Pesquisador da Embrapa Trigo. E-mail: spera@cnpt.embrapa.br


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