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ISSN 1517-4964 | |
Dezembro, 2008 | ||
Passo Fundo, RS |
Imagem: Fátima De Marchi |
Eficácia
de Spinosad e IGR Plus no controle das pragas de grãos
armazenados Rhyzopertha
dominica e Sitophilus
zeamais
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O principal problema no controle de pragas de grãos armazenados é a resistência aos inseticidas. Quando é detectada a resistência de uma praga a um inseticida na unidade armazenadora, o grão deve imediatamente ser usado e a unidade armazenadora deve ser limpa e higienizada, pulverizando inseticidas em toda estrutura para minimizar os efeitos da ressurgência da infestação. Aonde persistirem estas populações resistentes, o tratamento com o mesmo inseticida deve ser evitado o máximo possível para restabelecer a susceptibilidade. Outros produtos químicos com mecanismos de ação diferentes devem ser preferidos para prevenir a resistência cruzada (Prickett, 1980). Ações devem ser tomadas para evitar a disseminação da população resistente. Estratégias para minimizar os fatores que influenciam a seleção para a resistência de populações de pragas aos inseticidas no armazenamento de grãos devem ser maximizadas (Georghiou, 1983; Metcalf, 1983; Detection, 1986; Hawkins, 1986; Implementing, 1986; Keiding, 1986; Leeper et al., 1986; Croft, 1990; Tabashnik, 1990; Tabashnik et al., 1991). Rhyzopertha dominica e Sitophilus zeamais são as principais pragas de grãos armazenados e apresentam elevados níveis de resistência aos inseticidas piretróides e a fosfina, empregados para seu controle durante o armazenamento (Lorini & Galley, 1999; Lorini et al., 2007). O uso do manejo integrado de pragas é uma necessidade e para que este tenha êxito outras opções de ingredientes ativos, como é o caso do inseticida spinosad, precisam ser estudadas.
Spinosad é um inseticida baseado na fermentação da bactéria Saccharopolyspora spinosa Mertz & Yao descoberta no início da década de 80 (Mertz & Yao, 1990). É um inseticida que está sendo estudado e recomendado em vários países para controlar algumas pragas, entre estas R. dominica. Resultados da eficácia deste inseticida as pragas de grãos armazenados foram publicados por Subramanyam et al. (1999); Fang et al. (2002), Fang & Subramanyam (2003); Nayak et al. (2005). Combinações de inseticidas reguladores de crescimento e organofosforados como IGR Plus, o qual contém methoprene + fenitrothion, é outra opção para controle de pragas em grãos armazenados.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia de spinosad e IGR Plus no controle de R. dominica e S. zeamais, utilizando populações suscetíveis e resistentes a piretróides e a fosfina.
O experimento foi realizado no Laboratório de Grãos Armazenados da Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS. O delineamento experimental usado foi blocos ao acaso, com sete tratamentos, em quatro repetições. Cada unidade experimental foi composta de 1,0 kg de grãos de trigo, tratados com inseticidas e armazenados em sacos de papel, em sala de armazenamento mantida à temperatura de 25 ± 1 ºC e à umidade relativa de 60 ± 5%. As dosagens por kg de grãos de cada inseticida usado foram: Spinosad a 1,0 e 2,0 mg i.a., methoprene + fenitrothion (IGR Plus) a 1,0 + 6,0 e 2,0 + 12,0 mg i.a., deltamethrin (K-Obiol) a 0,4 mg i.a. e bifenthrin (ProStore) a 0,4 mg i.a. Um tratamento controle (grãos sem inseticida) foi usado para comparar a mortalidade dos inseticidas no experimento.
Foram retiradas, a um, 60, 120, 240 e 360 dias após o tratamento dos grãos, amostras de 100 g de grãos de cada parcela, e infestadas com 20 adultos de cada espécie e de diferentes populações de R. dominica e S. zeamais. Foram usadas duas populações de R. dominica, uma suscetível (BR4) e outra resistente (BR12) a inseticidas piretróides (Beckel et al., 2004). Para a população de S. zeamais (SOZ20) a suscetibilidade aos inseticidas do teste é desconhecida. Os insetos usados no experimento vieram da criação massal do Laboratório de Grãos Armazenados da Embrapa Trigo. As jarras de vidro contendo os grãos tratados e os insetos foram fechadas com papel filtro e massa de calafetar e mantidas em sala de criação à temperatura e umidade relativa do ar de 25 ± 1 ºC e 60 ± 5%, respectivamente. Após 15 dias de exposição, as jarras foram abertas e os grãos peneirados, contando-se o número de insetos mortos em cada parcela.
Os resultados da mortalidade foram submetidos a análise estatística (ANOVA) e teste F (p ≤ 0.05). As médias foram comparadas entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade (p ≤ 0,05).
Resultados e Discussão
Os resultados (Tabelas 1, 2, 3, 4 e 5) mostraram que Spinosad causou 100% de mortalidade de R. dominica em ambas dosagens, 1,0 e 2,0 mg i.a. por kg de grãos, em ambas populações, resistente (BR12) e suscetível (BR4). Esta mortalidade total ocorreu desde um dia após o tratamento até 360 dias de avaliação do experimento, demonstrando o potencial de longo período de proteção deste inseticida. Esta mesma mortalidade somente foi conseguida no controle de S. zeamais na dosagem de 2,0 mg i.a. por kg até os 60 dias após o tratamento. Após este período a mortalidade diminuiu para esta praga. Os tratamentos com Spinosad foram superiores estatisticamente aos demais inseticidas no controle de R. dominca, população resistente a piretróides BR12, em todas as avaliações, porém semelhante estatisticamente aos inseticidas deltamethrin (0,4 mg de i.a./kg) e bifenthrin (0,4 mg de i.a./kg) no controle da população suscetível a piretróides BR4, nas avaliações de 60, 120 e 240 dias após o tratamento.
IGR Plus causou 100% mortalidade de S. zeamais em ambas as dosagens a um dia após o tratamento, porém a mesma mortalidade somente foi conseguida com 2,0 + 12,0 mg i.a.i./kg aos 60 e 120 dias após o tratamento. IGR Plus mostrou baixa eficácia contra R. dominica, verificada pela percentagem de mortalidade. Deltamethrin e bifenthrin mostraram eficácia para a população de R. dominica suscetível a piretróides BR4 e baixa mortalidade para a população resistente BR12.
Entre os inseticidas protetores de grãos contra as principais pragas de armazenamento, Spinosad se apresenta como uma alternativa para controle de R. dominica. Além disto Spinosad tem a vantagem de ter baixa toxicidade aos mamíferos (Thomson et al., 2000).
Como
este inseticida protegeu os grãos contra R.
dominica por um período de 12 meses, em concentrações
muito baixas (1,0 g de i.a./t de grãos), justifica-se a continuidade
dos estudos necessários para registrá-lo e
recomendá-lo na armazenagem de grãos no país.
Conclusões
O inseticida Spinosad é uma alternativa de controle de R. dominica e manejo da resistência da praga pelo armazenador. Como é um inseticida derivado de bactéria, apresenta-se como bastante seguro na cadeia alimentar. A eficácia do inseticida ocorre em concentrações muito baixas (1,0 g de i.a./t de grãos), e com proteção longa, até 12 meses de armazenamento. Como já possui registro em outros países, espera-se que venha ser registrado em breve no Brasil também.
1 Pesquisador da Embrapa
Trigo, BR 285, km 294, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS.
E-mail: ilorini@cnpt.embrapa.br.
2 Rua
Rua 20 de Setembro, 359, 99025-580 Passo Fundo, RS. E-mail: helenarabeckel@hotmail.com.
3 Cooperativa Mista São Luiz Ltda (COOPERMIL), Rua São
Jorge, 110, Bairro Cruzeiro, Santa Rosa, RS. E-mail: sergio_schneider@terra.com.br.
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