MAPA
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ISSN 1517-4964
Dezembro, 2009
Passo Fundo, RS

Imagens: Paulo R.V.S. Pereira
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Identificação de adultos ápteros e alados das principais espécies de afídeos (Hemiptera: Aphididae) associadas a cereais de inverno no Brasil

Paulo Roberto Valle da Silva Pereira1
José Roberto Salvadori2
Douglas Lau1

Afídeos ou pulgões ocorrem em todas as regiões tritícolas do Brasil, com variações das espécies e da época de ocorrência, sendo observados atacando não apenas trigo mas também cevada, triticale e aveia, bem como outras gramíneas não cultivadas (RUBIN-DE-CELIS et al., 1996; SALVADORI & TONET, 2001; LOPES-DA-SILVA et al., 2004; MORAES et al., 2004). As principais espécies de afídeos encontradas em trigo são Metopolophium dirhodum (Walker, 1849), Schizaphis graminum (Rondani, 1852), Sitobion avenae (Fabricius, 1775), Rhopalosiphum padi (Linnaeus, 1758), R. maidis (Fitch, 1856) e R. rufiabdominalis (Sasaki, 1899) (FAGUNDES, 1972; BERTELS, 1973; GASSEN, 1984; RUBIN-DE-CELIS et al., 1997a, 1997b; SALVADORI & TONET, 2001; SILVA et al., 2004).

Os danos ocasionados por estes insetos podem ser diretos, por meio da sucção de seiva e do efeito tóxico da saliva, ou indiretos, pela transmissão de espécies do vírus do nanismo amarelo Barley yellow dwarf virus (BYDV) e Cereal yellow dwarf virus (CYDV) (GASSEN, 1984; SALVADORI & TONET, 2001; SILVA et al., 2004, LAU et al., 2008). O tipo e a severidade dos danos diretos variam com a espécie de afídeo, a intensidade do ataque e o estádio de desenvolvimento da planta no momento da infestação (KIECKHEFER & KANTACK, 1980; KINDLER et al., 2002). O ataque por afídeos pode reduzir substancialmente a produção de grãos e os efeitos sistêmicos de sua saliva toxigênica retardam o crescimento de raízes e prejudicam o perfilhamento. Os principais componentes de produção afetados são número de espigas, número de grãos por espiga e peso total de grãos (ORTMAN & PAINTER, 1960; DAHMS & WOOD, 1957; BURTON, 1986; KIECKHEFER & KANTACK, 1988). Como dano indireto da alimentação dos pulgões, o BYDV, transmitido exclusivamente por afídeos, é um problema de âmbito mundial, com grande impacto econômico em cereais de inverno. O BYDV afeta a produção de grãos pelo atrofiamento de raízes, redução do perfilhamento e pelo aumento da suscetibilidade do hospedeiro a fungos patogênicos e outros estresses ambientais (JEDLINSKI, 1981; CHAPIN et al., 2001).

A identificação correta das espécies de pulgões que estão atacando cereais de inverno é a primeira etapa para o sucesso e uso adequado de práticas de controle, implicando na redução de danos diretos e de incidência de viroses, além de fornecer informações que subsidiarão o manejo destes insetos nas safras seguintes.

Chaves para identificação de pulgões associados a cereais de inverno são encontradas em poucos trabalhos (CARRILLO & ZUÑIGA, 1974; CAMPOS et al., 1979; MARTIN, 1983; BLACKMAN & EASTOP, 1984; STOETZEL, 1987; STOETZEL & MILLER, 2001). Desta maneira, este trabalho tem como objetivo fornecer subsídios que auxiliem a correta identificação das principais espécies encontradas em cereais de inverno no Brasil, por meio de chave dicotômica, ilustrações das principais características morfológicas e descrições suplementares. Na Figura 1 encontram-se as principais características morfológicas usadas para diferenciar as espécies de pulgões na chave dicotômica, que podem ser melhor visualizadas em microscópio estereoscópico (lupa) com aumento variando entre 16 e 50 vezes.

 

Chave para identificação de adultos ápteros das principais espécies de pulgões associadas a cereais de inverno no Brasil


1. antena com seis segmentos, apresentando cerdas com comprimento menor que o diâmetro do III segmento antenal, processo terminal reto (Fig. 1A, B).............................................................................. 2

1’. antena com cinco segmentos (Fig. 7A) ….......... 6


2. sifúnculos mais escuros que o corpo ou com nítida diferença de pigmentação entre o corpo e a base do sifúnculo (Fig. 2A, 3B, 4B) ........................................................................... 3

2'. sifúnculos da mesma tonalidade do corpo ou mais escuros apenas no ápice (Fig. 5 e 6).............................................................................. 5


3. sifúnculo cilíndrico e de cor preta (Fig. 2A); cauda de tonalidade clara com cerca de ¾ do comprimento do sifúnculo; tubérculos antenais bem desenvolvidos; coloração geral do corpo verde-amarelada, geralmente com mancha negra dorsal; pernas com coloração negra próximo das articulações (Fig. 2B); tamanho do corpo variando de 1,3 a 3,3 mm ...................... Sitobion avenae (Fabricius, 1775)

3'. tubérculos antenais ausentes ou pouco desenvolvidos (Fig. 1E)............................................ 4

 

4. corpo um tanto quanto alongado; processo terminal da antena não chegando a ser 2,5 vezes mais longo que a base do último segmento antenal (Fig. 3A); sifúnculo com base mais larga que ápice, de tonalidade escura e comprimento não chegando a ser 1,5 vezes maior que o da cauda, com a base apresentando área arredondada de tonalidade escura (Fig. 3B); coloração geral do corpo esverdeada, com patas e antenas de cor negra (Fig. 3C); tamanho do corpo variando de 0,9 a 2,4 mm .................... Rhopalosiphum maidis (Fitch, 1856)

4'. processo terminal da antena com comprimento superior a três vezes o comprimento da base do último segmento antenal (Fig. 4A); corpo ovalado e com manchas de cor avermelhada na base dos sifúnculos; coloração geral do corpo verde-oliva (Fig. 4B e 4C); tamanho do corpo variando de 1,2 a 2,4 mm ................. Rhopalosiphum padi (Linnaeus, 1758)


5. tubérculos antenais pouco desenvolvidos (Fig. 5A); sifúnculos com ápice de cor negra (Fig. 5B); antena não atingindo a base do sifúnculo e de tonalidade mais escura que o resto do corpo; coloração geral do corpo amarelo-esverdeada com mancha dorsal longitudinal verde-escura de forma alongada (Fig. 5C); tamanho do corpo variando de 1,3 a 2,1 mm................ Schizaphis graminum (Rondani, 1852)

5'. tubérculos antenais bem desenvolvidos (Fig. 1D, 6A); antena ultrapassando a base do sifúnculo e de tonalidade clara, com ápice dos segmentos escuros; sifúnculos com o comprimento ¾ maior que a distância entre as suas bases (Fig. 6B); coloração geral do corpo amarelo-esverdeada (Fig. 6C); tamanho do corpo variando de 1,6 a 2,9 mm ...........Metopolophium dirhodum (Walker, 1849)


6. antena com cinco segmentos, apresentando cerdas longas e finas, muitas das quais com comprimento maior que o diâmetro do III segmento antenal, processo terminal caracteristicamente curvo (Fig. 7A); sifúnculos evidentes; corpo de coloração verde escura, com a base do abdomen de cor avermelhada (Fig. 7B); tamanho do corpo variando de 1,2 a 2,2 mm .......................... Rhopalosiphum rufiabdominalis (Sasaki, 1899)

6'. antena com cinco segmentos, apresentando cerdas curtas e com o processo terminal menor do que 2,5 vezes o comprimento da base do quinto segmento (Fig. 8A); sifúnculos curtos e pouco evidentes (Fig. 8B); corpo piriforme com cerdas grossas e evidentes e de coloração marrom a preta-brilhante na superfície dorsal, a qual é totalmente esclerotizada (Fig. 8C); tamanho do corpo variando de 1,0 a 1,9 mm................... Sipha (Rungsia) maydis Passerini, 1860


Chave para identificação de adultos alados das principais espécies de pulgões associadas a cereais de inverno no Brasil

1. antena com cinco segmentos (Fig. 9A); asas anteriores com veia média ramificada duas vezes (Fig. 9B); cabeça e tórax de coloração variando de marrom-escura a preta e apresentando cerdas grossas e evidentes; abdômen apresentando bandas escuras transversas nos tergitos 1 a 3 e com mancha preta que se estende sobre os tergitos abdominais 4 a 7, sifúnculos pequenos, mais largos do que compridos, e de difícil visualização (Fig. 9C); tamanho do corpo variando de 1,3 a 2,0 mm.......................... Sipha (Rungsia) maydis Passerini, 1860

1’. antena com seis segmentos; cerdas do corpo finas e não evidentes; sifúnculos alongados e evidentes ................................................................. 2


2. tubérculos antenais pouco desenvolvidos (Fig. 1E) ................................................................................. 3

2’. tubérculos antenais bem desenvolvidos (Fig. 1D); asa anterior com veia média ramificada duas vezes (Fig. B, 11A, 12A, 13A) …......................................4


3. asa anterior com a veia média ramificada uma vez (Fig. 10A); sifúnculos de coloração pálida escurecendo em direção ao ápice (Fig. 10B); cabeça de cor marrom-amarelada e abdômen amarelo-esverdeado (Fig. 10C); tamanho do corpo variando de 1,3 a 2,1 mm …................. Schizaphis graminum (Rondani, 1852)

3’ asa anterior com a veia média ramificada duas vezes (Fig. 11A); sifúnculos de coloração escura, cilíndrico, com leve constrição apical (Fig. 11B); no último segmento da antena, processo terminal maior que quatro vezes o comprimento da base; coloração do abdômen verde escura; tamanho do corpo variando de 1,2 a 2,4 mm (Fig. 11C) ............... Rhopalosiphum padi (Linnaeus, 1758)


4. asa anterior com a veia média ramificada duas vezes (Fig. 12A); sifúnculos pretos, cilíndricos e com comprimento cerca de 7 vezes maior que a largura (Fig. 12B); coloração do corpo de verde a levemente rosa e com pernas de coloração negra próximo das articulações; tamanho do corpo variando de 1,6 a 2,9 mm (Fig. 12C) .................... Sitobion avenae (Fabricius, 1775)

4’. asa anterior com a veia média ramificada duas vezes (Fig. 13A); sifúnculos claros, cilíndricos, sem constrição apical (Fig. 13B); corpo de coloração geral amarelo-esverdeada, abdômen sem manchas dorsais; tamanho variando de 1,6 a 3,3 mm (Fig. 13C)........... Metopolophium dirhodum (Walker, 1849)


Características taxonômicas de adultos ápteros e alados das principais espécies de pulgões associadas a cereais de inverno no Brasil

Rhopalosiphum rufiabdominalis (Sasaki, 1899)

Sinonímia: Rhopalosiphum subterraneum Mason, 1937; Rhopalosiphum splendens (Palmer, 1939)

Ápteros - corpo arredondado e de coloração verde-escura a oliva, geralmente com manchas avermelhadas ao redor e entre as bases dos sifúnculos; tamanho variando de 1,2 a 2,2 mm de comprimento; antenas com cinco segmentos, cerdas com comprimento maior que o diâmetro do III segmento e processo terminal caracteristicamente curvo; cauda curta, de cor negra e com dois pares de setas laterais (BLACKMAN & EASTOP, 1984; STOETZEL, 1987; STOETZEL et al., 1996; SALVADORI & TONET, 2001).

Sitobion avenae (Fabricius, 1775)

Sinonímia: Aphis avenae Fabricius,1775; Macrosiphum granarium (Kirby, 1798).

Ápteros - corpo alongado, de coloração amarelo-esverdeada e região dorsal do abdômen geralmente com mancha de cor negra; tubérculos antenais bem desenvolvidos; antenas com seis segmentos de cor negra, com ¾ do comprimento do corpo e ultrapassando a base dos sifúnculos; sifúnculos negros, cilíndricos e alongados; cauda de coloração clara, com ¾ do comprimento dos sifúnculos e com dois a cinco pares de cerdas laterais, podendo apresentar uma seta pré-apical. Alados - corpo com coloração similar aos ápteros, mas com manchas escuras entre os segmentos dorsais (BERTELS, 1973; BLACKMAN & EASTOP, 1984; SALVADORI & TONET, 2001; STOETZEL & MILLER, 2001).


Rhopalosiphum maidis (Fitch, 1856)

Sinonímia: Aphis maidis Fitch, 1856

Ápteros - corpo alongado de coloração amarelo-esverdeada ou azul-esverdeada e com manchas negras na área ao redor dos sifúnculos; patas e antenas de coloração negra; tubérculos antenais pouco desenvolvidos; antenas curtas e com seis segmentos, processo terminal do segmento VI com 2 a 2,3 vezes o comprimento da base; sifúnculo com base mais larga que ápice, de coloração negra e com constrição apical; cauda de coloração negra com dois pares de cerdas laterais (BERTELS, 1973; BLACKMAN & EASTOP, 1984; SALVADORI & TONET, 2001; STOETZEL & MILLER, 2001).


Rhopalosiphum padi (Linnaeus, 1758)

Sinonímia: Aphis padi Linnaues, 1758

Ápteros - corpo ovalado de coloração verde-oliva-acastanhada, geralmente com mancha avermelhada ao redor e entre as bases dos sifúnculos; tubérculos antenais pouco desenvolvidos; antena com seis segmentos e processo terminal do segmento VI com 4 a 5,5 vezes o comprimento da base; sifúnculos cilíndricos, de coloração mais escura que o corpo e com leve constrição apical; cauda curta e normalmente com dois pares de cerdas laterais. Alados - coloração do abdômen marrom-clara a verde-escura (BLACKMAN & EASTOP, 1984; SALVADORI & TONET, 2001; STOETZEL & MILLER, 2001).


Schizaphis graminum (Rondani, 1852)

Sinonímia: Aphis graminum Rondani, 1852; Toxoptera graminum (Rondani, 1852)

Ápteros - corpo oval alongado de coloração geral amarelo-esverdeada e dorso com linha média longitudinal verde-escura, tamanho variando de 1,3 a 2,2 mm de comprimento; tubérculo antenal pouco desenvolvido; antena com seis segmentos de coloração castanha e comprimento não atingindo a base dos sifúnculos; sifúnculos cilíndricos, da mesma coloração do corpo e com ápices escurecidos; cauda com dois ou três pares de cerdas laterais. Alados - cabeça e protórax de cor marrom-clara, demais segmentos torácicos negros; abdômen amarelo-esverdeado (BLACKMAN & EASTOP, 1984; SALVADORI & TONET, 2001; STOETZEL & MILLER, 2001).

 

Metopolophium dirhodum (Walker, 1849)

Sinonímia: Aphis dirhodum Walker, 1849; Macrosiphum dirhodum (Walker, 1849)

Ápteros - corpo fusiforme de coloração verde-pálida ou amarelo-clara, dorso com linha média longitudinal mais escura e tamanho variando de 1,7 a 3,7 mm de comprimento; tubérculos antenais bem desenvolvidos; antenas com seis segmentos de coloração geral castanho- amarelada (ápice dos segmentos III a V e processo terminal do segmento VI negros) cujo comprimento ultrapassa a base dos sifúnculos; sifúnculos cilíndricos da mesma coloração do corpo, 3,5 a 5 vezes mais longos que largos e com ápices escurecidos; cauda da mesma coloração do corpo, com dois a quatro pares de cerdas laterais e duas a três setas pré-apicais. Alados - abdômen de coloração amarelo-esverdeada (BLACKMAN & EASTOP, 1984; SALVADORI & TONET, 2001; STOETZEL & MILLER, 2001).


1 Embrapa Trigo, BR 285, Km 294, caixa postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS, Brazil. Email: paulo@cnpt.embrapa.br, dlau@cnpt.embrapa.br.
2 FAMV - Universidade de Passo Fundo (UPF), Rodovia BR 285, caixa postal 611, CEP 99052-900 Passo Fundo, RS. E-mail: salvadori@upf.br.


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