Dezembro, 2004 |
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Cánovas, A. D.1; Só e Silva, M.2; Braz, A. J. B. P.3
Introdução
Em meados da década de 70, por meio de pesquisas implementadas pela Embrapa Arroz e Feijão, foi demonstrada a viabilidade do plantio de feijão de terceira época, ou feijão de inverno, na Região Centro-Oeste, no período de maio a setembro, em condições irrigadas. A perspectiva do plantio de feijão de inverno, em virtude dos altos rendimentos de grãos alcançados e da qualidade do produto obtido, motivou a produção de feijão em escala empresarial com o uso de alta tecnologia, em que a irrigação pelo sistema de aspersão, principalmente pelo método de pivô central, converteu-se no principal fator tecnológico. O pouco uso de sistemas de rotação no plantio de feijão de inverno e a falta de culturas alternativas para essa época de cultivo induziram a proliferação de fungos de solo e de plantas daninhas, até o ponto de inviabilizar a exploração econômica do feijão de inverno, em algumas áreas antes produtivas. A inserção de trigo, como cultura alternativa nos sistemas de produção de grãos no cerrado, principalmente no plantio de inverno, apresenta notáveis perspectivas na sua exploração econômica, em razão da ampla adaptação edafoclimática da cultura a esse ecossistema, no qual a produção tem sido de altos rendimentos de grãos com excelente aptidão industrial do produto, além de produzir palha de ótima qualidade, muito eficiente na supressão de plantas daninhas na cultura subseqüente, quando se adota o sistema plantio direto (Só e Silva, 2001).
A crescente demanda de matéria-prima, em escala de mercado local, regional e nacional, aumenta as perspectivas de produção de trigo no estado e na região do Brasil Central, atualmente acrescidas de preços competitivos em relação a qualquer outro produto agrícola regional e mesmo do próprio trigo importado, para o qual estabeleceu-se um preço de garantia baseado no valor de paridade CIF porto Brasil/origem Argentina (Fórum, 2001).
O Estado de Goiás possui uma disponibilidade de área irrigada de 147.405 hectares, sendo 118.099 hectares pelo método de pivô central e 29.306 pelo método convencional (Christofidis, 2002). Como toda a área irrigada não apresenta as condições de altitude requerida para a cultura, no plantio irrigado estima-se em 70% a área possível de aproveitamento e que, com uma produtividade média de 4.500 kg/ha, poderão ser produzidas 464.326 toneladas/ano, o que atenderia à demanda de 468.000 toneladas/ano processadas, atualmente, pelos quatro moinhos existentes no estado e, com facilidade, poderão ser, alcançadas as 600.000 toneladas/ano da capacidade de processamento instalada no Estado de Goiás. Isso sem considerar a produção de trigo de sequeiro, cuja instabilidade torna difícil estimar a produção anual.
Os trabalhos de pesquisa que vêm sendo desenvolvidos no Estado de Goiás e no Brasil Central inserem-se, através de ações e atividades, no projeto de pesquisa Melhoramento Genético de Trigo para Competitividade do Agronégocio Brasileiro, liderado pela Embrapa Trigo, que tem como objetivo: aumentar a competitividade do trigo nacional pelo desenvolvimento de cultivares que possibilitem a redução do custo de produção, através do aumento de potencial produtivo e de resistência aos principais estresses bióticos e abióticos, associado a desempenho tecnológico que atenda às demandas do mercado consumidor (Scheeren, 2002).
Materiais e Métodos
Os ensaios de genótipos de trigo irrigado, tanto em VCU1 como em VCU2, foram instalados na sede da Embrapa Arroz e Feijão e na fazenda Vargem Bicas, nos municípios de Santo Antônio de Goiás e de Vianópolis, respectivamente. Os ensaios em VCU1 constaram de 24 genótipos em Santo Antônio de Goiás e de 20 em Vianópolis, e os em VCU2, de 14 genótipos, em ambos os locais. Os plantios, nos dois locais, foram realizados na primeira quinzena de maio de 2002, tendo sido usada para a semeadura plantadora de ensaios cedida pela Embrapa Trigo. Na semeadura, foi aplicada dose de 400 kg/ha de adubo formulado 4-30-16+ boro, na forma de bórax, na dose de 10 kg/ha. Os ensaios de Vianópolis receberam os mesmos tratos culturais feitos em lavoura, que consistiram basicamente na aplicação de 80 kg/ha de nitrogênio em cobertura, via pivô central, aplicados 15, 30 e 45 dias após o plantio, além de controle de plantas daninhas e de lagartas. O experimento foi conduzido em blocos ao acaso, em parcelas de cinco linhas de seis metros de comprimento com espaçamento de 0,20 m, usando-se para efeitos de cálculo da produção, em kg/ha, área útil de 5 m2.
Em Santo Antônio de Goiás, foi registrada a data de espigamento dos genótipos, e, nos dois locais, o peso do hectolitro de todas as linhagens. Finalmente, foi processada análise de variância individual dos experimentos, e conjunta dos 20 genótipos comuns aos dois ensaios, pelo teste de Tukey, a 0,05% de probabilidade (tabelas 1 e 2).
Resultados e Discussão
No ensaio em VCU1 de Santo Antônio de Goiás, a linhagem EP 991035 teve produção 11% superior à da testemunha Embrapa 42, sem, contudo, apresentar diferença significativa com relação tanto à testemunha quanto às demais linhagens. Em Vianópolis, destacou-se a linhagem EP 991115, com produção superior em 25% à da testemunha Embrapa 42, apresentando diferença significativa em relação às demais linhagens. O mesmo ocorreu na análise conjunta, na qual essa linhagem superou a testemunha em 20% (Tabela 1).
No ensaio VCU2, em Santo Antônio de Goiás, destacou-se a linhagem PF 91627, com produção significativamente superior à dos demais genótipos, superando a testemunha Embrapa 42 em 50%. Em Vianópolis e na análise conjunta, a cultivar BRS 207 superou significativamente as demais linhagens e a testemunha Embrapa 42, em 36% e 35%, respectivamente (Tabela 2).
Conclusões
No ensaio VCU1, a linhagem EP 991115 destacou-se em todas as análises, com predominância em Vianópolis, onde as produções foram muito boas.
Nos ensaios VCU2, destacaram-se a linhagem PF 96627, em Santo Antônio de Goiás, e a cultivar BRS 207, tanto em Vianópolis como na análise conjunta.
Referências Bibliográficas
CHRISTOFIDIS, D. Irrigação, a fronteira hídrica na produção de alimentos. Item, Brasília, n. 54, p. 46-55, 2002.
FÓRUM de competitividade da cadeia de trigo no Estado de Goiás. Goiânia: [s.n.], 2002. 15p.
SCHEEREN, P.L. Melhoramento genético de trigo para competitividade do agronegócio brasileiro. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2002. 32p. (Embrapa. Macroprograma 2 - Competitividade e Sustentabilidade Setorial).
SÓ e SILVA, M. Avaliação e seleção de genótipos de cereais de inverno no Brasil para obtenção de valor de cultivo e uso (VCU). Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2001. 12 p. (Embrapa Programa 4 - Grãos. Projeto 04.2002.355). Projeto em andamento.
Tabela 1. Análise da produção de genótipos de trigo irrigado em VCU1 nos municípios de Santo Antônio de Goiás e de Vianópolis no Estado de Goiás - 2001.
Tabela 2. Análise da produção de genótipos de trigo irrigado em VCU2 nos municípios de Santo Antônio de Goiás e de Vianópolis no Estado de Goiás - 2001.
As médias de produção de grãos seguidas da mesma letra, na coluna, não são diferentes, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
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