Embrapa Trigo

Dezembro, 2004
Passo Fundo, RS

37

Avaliação do Valor de Cultivo e Uso de Genótipos de Trigo Irrigado no Estado de Goiás - 2002

Cánovas, A. D.1; Só e Silva, M.2; Braz, A. J. B. P.3

 

Introdução

Com a abertura do cerrado e a posterior validação das pesquisas que consolidaram a viabilidade técnica e econômica da produção de trigo no cerrado, a Região Sul, com predominância dos estados do Rio Grande do Sul e do Paraná, deixou de ser área restrita para a cultura de trigo no país, abrindo-se, assim, uma nova fronteira na Região Centro-oeste com grande perspectiva para a expansão da triticultura. Ao contrário das regiões tradicionalmente produtoras de trigo no país, que se caracterizam pelo clima chuvoso e úmido na época de desenvolvimento da cultura, o que compromete a produção e a qualidade do produto, a Região do Cerrado na época de inverno apresenta umidade relativa baixa, alta insolação, ausência de geadas, secas e granizo e pequenas necessidades de secagem, em razão do tempo seco na colheita, desde que não haja atraso na época de semeadura. Esses elementos climáticos favorecem a cultura, tanto na produtividade quanto na qualidade do produto obtido, além das poucas injúrias causadas por pragas e doenças.

Somada aos fatores climáticos favoráveis, a posição geográfica do Estado de Goiás, em relação ao mercado interno do produto e seus derivados e à possibilidade de produção em duas safras, no mesmo ano agrícola, quando as produções coincidem com a época de entressafra da produção dos estados do Sul e da Argentina, privilegia a região Central do Brasil na produção de trigo (Cánovas, 2002a). Outro aspecto relevante é que o trigo no cerrado constitui uma importante alternativa de cultura de inverno e de rotação com outras culturas, principalmente soja, à semelhança do que é feito tradicionalmente no Sul do país, pois é importante ressaltar que em sistemas de produção deve-se visualizar o todo econômico, e não o ganho financeiro das partes, já que uma cultura numa determinada condição pode não ser rentável, mas pode estar contribuindo para a maior rentabilidade de outra, compensando, assim, o benefício/custo do sistema (Cánovas, 2002b).

Materiais e Métodos

Os ensaios de trigo em condições irrigadas VCU1 e VCU2, no ano de 2002, foram instalados nos municípios de Santo Antônio de Goiás (Embrapa Arroz e Feijão), de Vianópolis (fazenda Vargem Bicas), de Rio Verde (fazenda São Judas) e de Montividiu (fazenda Realeza). Os ensaios constaram de 17 genótipos no VCU1 e de 24 genótipos no VCU2. Todos os ensaios foram instalados entre os dias 10 e 15 de maio. A semeadura foi feita com plantadora de ensaios cedida pela Embrapa Trigo, em parcelas de cinco linhas de seis metros de comprimento, com espaçamento de 0,20 m, em quatro repetições. Na colheita, para efeitos de cálculo da produção, em kg/ha, foi considerada a área útil de 5 m2. Na semeadura, foram usados 400 kg/ha de adubo formulado mais boro, na forma de bórax, na dose de 10 kg/ha, e adubação de cobertura em média de 80 kg/ha de nitrogênio, na forma de uréia, aplicada via pivô central. A área do ensaio de Santo Antônio de Goiás recebeu calagem de 10 t/ha de calcário dolomítico.

Em virtude de os ensaios terem sido instalados em áreas dentro das lavouras de trigo da fazenda, cobertos pelo mesmo método de irrigação e diante da impossibilidade de diferenciar os tratos culturais nos experimentos, a adubação de cobertura e o controle de plantas daninhas, pragas e doenças foram os mesmos realizados na lavoura comercial. Em todos os ensaios foram avaliados, além da produção, os parâmetros de altura, peso do hectolitro, massa de mil sementes e acamamento. A análise da variância da produção foi feita pelo teste de Tukey,a 0,05% de probabilidade.

Resultados e Discussão

O inverno do ano de 2002 foi atípico para o plantio de trigo na Região Centro-oeste, tendo em vista a ocorrência de temperaturas com valores acima das médias normais predominantes na região nessa época. Isso causou, nas plantas, diminuição no perfilhamento e no ciclo de desenvolvimento, resultando, como conseqüência, em redução na produção. Esse aspecto foi notório na maioria das lavouras irrigadas do Estado de Goiás, e os ensaios conduzidos em quatro de seus municípios não foram exceção. Como conseqüência das condições atípicas de temperatura para a época, mesmo na condição irrigada, a brusone teve incidência na baixa produção dos ensaios nos municípios de Santo Antônio de Goiás, de Vianópolis e de Montividiu, fato também evidenciado nas lavouras de trigo desses municípios.

O desempenho dos genótipos avaliados, nos ensaios irrigados, tanto em VCU1 quanto em VCU2, foi bastante diferenciado nos quatro locais de avaliação, conforme tabelas 1, 2, 3, 4 e 5, do que se infere que no VCU1 a linhagem PF 973436 destacou-se em produção, em Santo Antônio de Goiás e em Vianópolis, tendo ocupado o primeiro e o segundo lugar, respectivamente, sem, contudo, diferenciar-se significativamente dos demais genótipos. Em Rio Verde, destacaram-se a cultivar IVI 931009 e a linhagem CPAC 99202. Em Montividiu, não houve diferença estatística entre os genótipos avaliados; contudo, a linhagem CPAC 9956 teve a maior produção. Na análise conjunta do VCU1 a cultivar IVI 931009 e a linhagem CPAC 99202 foram as mais produtivas, sem diferença significativa entre elas, mas com diferença em relação às demais.

No VCU2, destacaram-se as cultivares BRS 210 e BRS 207, em Santo Antônio de Goiás; em Vianópolis, as linhagens PF 973047 e CPAC 98222, esta última com diferença significativa também nos ensaios de Rio Verde e de Montividiu e na análise conjunta dos quatro locais. Cabe ressaltar que, embora os ensaios VCU1 e VCU2 de Santo Antônio de Goiás tenham apresentado produção menor que a dos ensaios de Rio Verde e de Montividiu, a massa de mil sementes dos ensaios de Santo Antônio de Goiás foi superior em 23% à média dos outros locais, como resultado, possivelmente, da menor incidência de brusone, ocorrida nessa região.

Conclusões

Nos ensaios irrigados em VCU1, não houve uma linhagem que se destacasse pelo desempenho produtivo. Apenas a linhagem PF 973436 teve pequena vantagem de produção nos locais de Santo Antônio de Goiás e de Vianópolis, com relação aos demais genótipos avaliados. A cultivar IVI 931009 e a linhagem CPAC 99202 destacaram-se no ensaio de Rio Verde e na análise conjunta dos quatro locais.

Nos ensaios irrigados VCU2, a cultivar BRS 210 teve diferença estatística no ensaio de Santo Antônio de Goiás, a linhagem PF 973047 foi significativamente superior em Vianópolis, e a linhagem CPAC 98222 teve excelente desempenho em Vianópolis, em Rio Verde e em Montividiu, bem como na análise conjunta dos quatro locais.

A massa de mil sementes dos ensaios de Santo Antônio de Goiás foi superior à média dos outros locais, em 23% e 26% no VCU1 e no VCU2, respectivamente.

Referências Bibliográficas

CÁNOVAS, A.D. Em se plantando (com tecnologia), tudo dá. Jornal do Campo, Goiânia, p.11, jan. 2002a.

CÁNOVAS, A.D. Importância social e econômica do trigo. O Popular, Goiânia, 31 ago. 2002b. Suplemento do Campo, p.4.

 

Tabela 1. Análise da produção de genótipos de trigo irrigado em VCU1 nos municípios de Santo Antônio de Goiás e de Vianópolis, no Estado de Goiás - 2002.

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As médias de produção de grãos seguidas da mesma letra, na coluna, não são diferentes, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Acamamento: 0= mínimo; 5= máximo.

 

Tabela 2. Análise da produção de genótipos de trigo irrigado em VCU1 nos municípios de Rio Verde e de Montividiu, no Estado de Goiás - 2002.

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As médias de produção de grãos seguidas da mesma letra, na coluna, não são diferentes, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Acamamento: 0= mínimo; 5= máximo.

 

Tabela 3. Análise da produção de genótipos de trigo irrigado em VCU2 nos municípios de Santo Antônio de Goiás e de Vianópolis, no Estado de Goiás - 2002.

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As médias de produção de grãos seguidas da mesma letra, na coluna, não são diferentes, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Acamamento: 0= mínimo; 5= máximo.

 

Tabela 4. Análise da produção de genótipos de trigo irrigado em VCU2 nos municípios de Rio Verde e de Montividiu, no Estado de Goiás - 2002.

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As médias de produção de grãos seguidas da mesma letra, na coluna, não são diferentes, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Acamamento: 0= mínimo; 5= máximo.

 

Tabela 5. Análise conjunta dos ensaios irrigados em VCU1 e dos ensaios irrigados em VCU2 nos municípios de Santo Antônio de Goiás, de Vianópolis, de Rio Verde e de Montividiu, no Estado de Goiás - 2002.

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As médias de produção de grãos seguidas da mesma letra, na coluna, não são diferentes, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.


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