Dezembro, 2004 |
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Avaliação do Valor de Cultivo e Uso de Genótipos de Trigo de Sequeiro no Estado de Goiás - 2002
Cánovas, A. D.1; Só e Silva, M.2; Braz, A. J. B. P.3
Introdução
Nesta última década, a média mundial de produção de trigo foi superior à de arroz e à de milho, entretanto, nos últimos três anos, a cultura passou do primeiro para o terceiro lugar, em virtude de a demanda mundial ter sido superior à produção. Essa defasagem é atribuída a problemas climáticos ocorridos em grandes regiões produtoras, bem como ao esgotamento e à diminuição de áreas apropriadas para o cultivo. Nesse contexto, a região do cerrado brasileiro configura-se, praticamente, como a única grande fronteira para produção de trigo no mundo, tendo em vista a existência de extensas áreas com condições de clima, solo e infra-estrutura para seu cultivo, ainda, inexploradas. Sendo o Brasil o quinto país do mundo em extensão territorial e número de habitantes e um dos poucos, ainda, com disponibilidade de grandes áreas agricultáveis, é um despropósito que seja o primeiro importador de trigo do mundo e contribua com apenas 0,4% da produção mundial desse importante produto, abastecendo escassos 27% das necessidades de consumo e despendendo mais de um bilhão de dólares para compensar a demanda interna, recurso financeiro apenas superado pelo gasto na importação de petróleo (Cánovas, 2002).
Atualmente, a região Centro-oeste tem capacidade instalada de moagem de 1,35 milhão de toneladas/ano, distribuída nos oito moinhos que atuam na região, quatro deles localizados no Estado de Goiás, além de mais um que está sendo instalado no município de Anápolis. A capacidade de industrialização dos moinhos em atividade no Estado de Goiás é de 468.000 toneladas/ano, portanto, com a produção de 45.000 toneladas atingida em 2002 e as substanciais importações de trigo do Sul do país e dos países do Mercosul, principalmente da Argentina, o Estado de Goiás fica, ainda, com uma capacidade ociosa de 25% (Fórum, 2002).
O exposto evidencia as imensas possibilidades que a região do cerrado, em geral, e o Estado de Goiás, em particular, oferecem para o cultivo de trigo, tanto no plantio de sequeiro como no irrigado, e a necessidade de incentivar, cada vez mais, na região e no estado, as pesquisas nessa cultura, a fim de corresponder, com cultivares e novas tecnologias de produção, às perspectivas de vocação da cultura de trigo no cerrado.
Materiais e Métodos
No ano 2002, os ensaios de sequeiro foram instalados nos municípios de Santo Antônio de Goiás (Embrapa Arroz e Feijão), de Rio verde (Escola Superior de Agricultura), de Montividiu e de Mineiros (em fazendas particulares). Os ensaios em VCU1 constaram de 18 genótipos, e em VCU2, de 12 genótipos.
Em todos os locais, a semeadura dos ensaios foi mecanizada, usando-se plantadora de ensaios e apoio de pessoal técnico cedidos pela Embrapa Trigo. Em todos os locais, foi aplicada adubação de 400 kg/ha, na semeadura, e 60 kg/ha de nitrogênio, em cobertura, 15 dias após a emergência de plantas.
Em Santo Antônio de Goiás e em Mineiros, procedeu-se à capina manual, enquanto, em Rio Verde e em Montividiu, o controle de plantas daninhas foi realizado quimicamente. Não houve controle fitossanitário em nenhum dos locais. Em todos os locais, as parcelas constaram de cinco linhas de seis metros de comprimento, com espaçamento de 0,20 m, tendo sido colhida, para efeitos de cálculo de produção, a área útil de 5 m2. Após o cálculo da produção, em kg/ha, foram avaliados o peso do hectolitro e a massa de mil sementes dos ensaios de Rio Verde e de Montividiu e realizada, em todos os ensaios, exceto o de Santo Antônio de Goiás, a análise de variância das produções, em forma individual e conjunta, pelo teste de Tukey, a 0,05% de probabilidade (tabelas 1 e 2).
Resultados e Discussão
O ano 2002 foi para a cultura de trigo de sequeiro bastante atípico, frustrando todas as expectativas de produção no Estado de Goiás e na região tritícola do Brasil Central. Nos ensaios, tanto em VCU1 como em VCU2, instalados nas diferentes regiões do Estado de Goiás, principalmente nos municípios de Rio Verde, de Montividiu e de Mineiros, as temperaturas médias elevadas, predominantes durante praticamente todo o ciclo de desenvolvimento da cultura, inibiram o perfilhamento de plantas e encurtaram o ciclo de desenvolvimento de plantas, diminuindo, portanto, substancialmente a produção. A condição climática de temperatura e umidade relativa elevadas criou ambiente propício para o surgimento de intensa injúria do fungo Pyricularia grisae, causador da brusone, como antes nunca tinha ocorrido na região, dizimando a maioria das lavouras e, portanto, causando grandes prejuízos ao produtor de trigo da região.
Como se pode perceber, pelos dados apresentados, os ensaios também foram bastante prejudicados, ficando a produção de todos eles muito aquém do esperado, mas se pode inferir, como um bom resultado, apesar de todos os aspectos negativos que incidiram nos ensaios, o bom desempenho, no VCU1, da linhagem PF 89375, nos três locais, bem como das linhagens PF 990818 e PF 993933-A e, no VCU2, da linhagem EP 935437, que, mesmo não tendo sido significativamente superior aos demais genótipos, destacou-se nos ensaios dos três locais (tabelas 1 e 2).
Conclusões
No ensaio de sequeiro VCU1 conduzido nos municípios de Rio Verde, de Montividiu e de Mineiros, a linhagem PF 89375, na análise individual dos dois últimos locais e na análise conjunta, foi significativamente superior aos demais genótipos. A linhagem PF 990818, em Rio Verde e em Mineiros e na análise conjunta, foi superior à testemunha, e a linhagem PF 993933-A, na análise conjunta dos três locais, foi superior à testemunha Embrapa 21.
No ensaio VCU2 conduzido nos mesmos municípios, a linhagem EP 935437 ocupou o terceiro, o segundo e o terceiro lugar nas análises individuais, respectivamente, nesses municípios, e na análise conjunta foi superior à testemunha. As cultivares testemunhas Aliança e BR 18 também se destacaram pelo bom desempenho nos três ensaios.
O bom desempenho das linhagens PF 89375, PF 990818 e PF 993933-A, no VCU1, e dos genótipos EP 935437, Aliança e BR 18, no VCU2, configuram boa tolerância à brusone, em razão da alta incidência e prejuízos causados pelo fungo, nesse ano, na região.
Referências Bibliográficas
CÁNOVAS, A.D. Importância social e econômica do trigo. O Popular, Goiânia, 31 ago. 2002. Suplemento do Campo.
FÓRUM de competitividade da cadeia de trigo no Estado de Goiás. Goiânia: [ s.n.], 2002. 15p.
Tabela 1. Análise da produção de genótipos de trigo de sequeiro em VCU1, no Estado de Goiás - 2002.
Tabela 2. Análise da produção de genótipos de trigo de sequeiro em VCU
2, no Estado de Goiás - 2002.Médias com a mesma letra não diferem significativamente, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
Tabela 3. Análise conjunta da produção dos ensaios de Rio Verde, de Montividiu e de Mineiros em, no Estadso de Goiás, VCU
1 e em VCU2 - 2002.Copyright © 2004, Embrapa Trigo