Dezembro, 2004 |
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Cánovas, A. D.1; Só e Silva, M.2; Braz, A. J. B. P.3; Menezes, C. C. E.1; Moraes Junior, P. R. de1
Introdução
Embora as potencialidades para o cultivo de trigo na Região Centro-oeste tenham sido visualizadas em meados da década de 30, por meio das primeiras pesquisas realizadas com essa cultura, foi com programas governamentais, em escala nacional, de incentivo à cultura e, posteriormente, com o advento do plantio direto que sua inserção competitiva nos sistemas agrícolas da região tornou-se uma realidade, hoje em bases mais sólidas e técnicas como resultado do zoneamento agroclimático para a cultura em quase toda a região. A região do cerrado, e mais especificamente o Estado de Goiás, oferece ótimas condições de clima e solo, posição estratégica de mercado e capacidade de industrialização do produto, o que confere à região e ao estado um grande potencial para a cultura de trigo (Anuário..., 2001). Acrescenta-se, ainda, a vantagem de serem explorados os sistemas de plantio de sequeiro e irrigado, em épocas diferentes do mesmo ano agrícola, possibilitando a oferta de produto, em âmbito regional, na entressafra de produção do trigo nacional e importado (Só e Silva, 2001).
Como componente de sistemas, em plantio direto, de culturas de vocação agrícola estadual e regional, com ênfase em soja, feijão e milho, o trigo reveste-se de especial importância, na rotação com essas culturas, em virtude da qualidade e quantidade de palha, bem como da ação de supressão de plantas daninhas, além do aproveitamento residual da fertilidade do solo proveniente da cultura precedente.
Entre os sistemas de sequeiro e irrigado, o primeiro apresenta maior potencial de cultivo, tanto no Estado de Goiás como na região, em razão da extensa área com altitude acima de 800 m, condição exigida para o plantio nesse sistema, embora as perspectivas do plantio irrigado também sejam bastante promissoras, mas limitadas por problemas de altitude e fontes de captação de água para a irrigação.
Dentro dessa perspectiva, os trabalhos de pesquisa com trigo de sequeiro que vêm sendo realizados na Região Centro-oeste visam à criação de cultivares com biótipos adaptados às condições de clima do cerrado, na época da seca, e à aplicação da tecnologia disponível que permita tanto o aumento de produtividade da cultivar quanto a aptidão industrial do grão exigida pela indústria de processamento (Scheeren, 2002). Nesse contexto, inserem-se os trabalhos de avaliação de valor de cultivo e uso de genótipos de trigo de sequeiro em VCU1 e VCU2, realizados nos municípios de Montividiu e de Mineiros, no Estado de Goiás, no ano de 2001.
Materiais e Métodos
Os ensaios de sequeiro, tanto em VCU1 como em VCU2, foram instalados nas fazendas Brazilândia, no município de Montividiu, e Holândia, no município de Mineiros. Os ensaios constaram de 17 genótipos em VCU1 e 16 em VCU2. A semeadura na fazenda Holândia foi feita em 23 de fevereiro, e na fazenda Brazilândia, em 22 de fevereiro de 2001. Os plantios foram realizados com máquina plantadora de ensaios, em blocos ao acaso, em parcelas de cinco linhas de cinco metros de comprimento, com espaçamento de 0,30 m entre as linhas, e quatro repetições.
Os ensaios, em ambas as fazendas, foram conduzidos em plantio direto na palha de soja deixada pela cultura anterior, tendo sido aplicados na adubação de plantio 400 kg/ha da fórmula 4-30-16 + boro, na forma de Borax, misturado ao adubo, na quantidade de 10 kg/ha. Em cobertura, 15 dias após a emergência de plantas, foram aplicados 80 kg/ha de nitrogênio, na forma de uréia. Não houve controle de plantas daninhas nem fitossanitário.
Para o cálculo de produção, na fazenda Holândia foi colhida toda a parcela, perfazendo 7,5 m2 de área útil, e na fazenda Brazilândia foram colhidas parcelas de 2,4 m2 (duas linhas de 4 m) de área útil. Na planta, foram avaliadas a altura e a época de espigamento, e, no grão, rendimento em kg/ha, peso do hectolitro e massa de mil grãos. A análise de variância das produções foi feita de forma individual e conjunta, e as médias comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade (tabelas 1 e 2).
Resultados e Discussão
Os ensaios de genótipos de sequeiro, tanto em VCU1 quanto em VCU2, instalados nos municípios de Rio Verde, de Montividiu e de Mineiros, bem como os instalados na sede da Embrapa Arroz e Feijão, principalmente neste último local, têm sofrido com alguma freqüência problemas de excesso de chuva no início do plantio e de falta desta nas etapas intermediárias da fase produtiva da planta, o que tem acarretado baixo desempenho produtivo, quando não há perda parcial ou total do ensaio. É importante, portanto, que sejam avaliadas épocas de plantio mais apropriadas a cada região.
No ensaio VCU1, tanto no município de Mineiros como no de Montividiu, as análises individuais e de conjunto evidenciaram a superioridade produtiva das cultivares Aliança e Embrapa 21 e da linhagem EP 991585, com destaque para esta última, que, apesar das baixas produções obtidas no ensaio de Mineiros, teve bom desempenho, em comparação com as outras linhagens avaliadas; em Montividiu, mesmo não havendo diferença significativa entre os genótipos avaliados, pelo teste aplicado, foi superior em produção às outras linhagens.
Com relação ao ensaio VCU2, novamente, as cultivares testemunhas Aliança e Embrapa 21 destacaram-se em produtividade, tanto na análise individual dos ensaios como na conjunta, enquanto a cultivar WT 96063, mesmo sem apresentar diferença significativa em relação aos demais genótipos, teve, no ensaio de Mineiros, relativo destaque e, no ensaio de Montividiu, superou todos os genótipos avaliados; na análise conjunta, foi superada em produção apenas pelas cultivares testemunhas Aliança e Embrapa 21.
Conclusões
Nos ensaios VCU1, conduzidos nos municípios de Montividiu e de Mineiros, as cultivares testemunhas Aliança e Embrapa 21 e a linhagem EP 991585, tanto na análise individual como na conjunta, foram, na ordem, superiores em produção aos demais genótipos avaliados.
No ensaio VCU2, no município de Mineiros, a cultivar testemunha Aliança destacou-se em produtividade, seguida pela linhagem EP 93543, enquanto a cultivar WT 96063, no ensaio de Montividiu, foi superior às testemunhas. Na análise conjunta, destacaram-se, na ordem de produtividade, as cultivares Aliança, Embrapa 21, WT 96603 e EP 93543.
Referências Bibliográficas
ANUÁRIO do trigo 2001. Diário da Manhã. Passo Fundo, out. 2001. 39p.
SCHEEREN, P.L. Melhoramento genético de trigo para competitividade do agronegócio brasileiro. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2002. 32 p. (Embrapa. Macroprograma 2 - Competitividade e Sustentabilidade Setorial).
SÓ e SILVA, M. Avaliação e seleção de genótipos de cereais de inverno no Brasil para obtenção de valor de cultivo e uso (VCU). Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2001. 12p. (Embrapa Programa 04-Grãos. Projeto 04.2000.355. Projeto em andamento).
Tabela 1. Análise da produção de genótipos de trigo de sequeiro em ensaio VCU1, no Estado de Goiás - 2001.
Tabela 2. Análise da produção de genótipos de trigo de sequeiro em ensaio VCU2,, no Estado de Goiás - 2001.
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