Agosto, 2006 |
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Resistência de plantas daninhas a herbicidas: conceitos, origem e evolução
Leandro Vargas1
Erivelton Scherer Roman1
Introdução
O controle de plantas daninhas com herbicidas é prática comum na agricultura. O uso indiscriminado de herbicidas propiciou o desenvolvimento de muitos casos de resistência a tais compostos por diversas espécies daninhas (Burnside, 1992).
A planta é sensível a um herbicida quando o crescimento e desenvolvimento são alterados pela ação do produto; assim, uma planta sensível pode morrer quando submetida a determinada dose do herbicida. Já a tolerância é a capacidade inata de algumas espécies em sobreviver e se reproduzir após o tratamento herbicida, mesmo sofrendo injúrias. Estas características relacionam-se com a variabilidade genética natural da espécie. Em dada população de plantas existem aquelas que, naturalmente, toleram mais ou menos um determinado herbicida. Por exemplo, a Ipomoea spp nunca foi controlada pelo herbicida glyphosate. Dessa forma refere-se a esta planta como tolerante ao glyphosate. Por outro lado, a resistência é a capacidade adquirida de dada planta em sobreviver a determinada dose de um herbicida que, em condições normais, controla os demais integrantes da população. A resistência pode ocorrer naturalmente (seleção) ou ser induzida com o uso de biotecnologia (Weed Science, 1999a).
A primeira constatação de resistência de plantas daninhas aos herbicidas ocorreu em 1957, quando foram identificados biótipos de Commelina difusa nos Estados Unidos e, depois, Daucus carota no Canadá, ambos resistentes a herbicidas pertencentes ao grupo das auxinas (Weed Science, 1998). Em 1970, no Estado de Washington (EUA), foram descobertos biótipos de Senecio vulgaris resistentes a simazine (Ryan, 1970). Estudos posteriores demonstraram que esta espécie era resistente a todas triazinas, devido a uma mutação nos seus cloroplastos (Radosevich et al., 1979). Posteriormente, várias outras espécies com resistência a triazinas foram descritas em gêneros como Amaranthus e Chenopodium, em diferentes países (Radosevich, 1977). Estima-se que, no mundo, haja mais de 5 milhões de hectares de culturas com invasoras apresentando alguma resistência a triazinas (Kissmann, 1996).
Em menos de 30 anos, após o primeiro caso de resistência, havia mais de 100 espécies reconhecidamente resistentes em cerca de 40 países (Heap, 1997). Muitos outros casos têm sido relatados, e hoje há aproximadamente 300 biótipos de plantas daninhas que apresentam resistência a um ou mais mecanismos herbicidas. Acredita-se que um maior número de biótipos resistentes surge para alguns mecanismos herbicidas, como os grupos das triazinas e inibidores da acetolactato sintase (ALS), devido às altas especificidade e à eficiência destes e, também, ao fato de serem empregados em grandes áreas.
Alguns mecanismos de ação, como os inibidores de PROTOX, apresentam menor número de plantas daninhas resistentes. As razões para o não surgimento de plantas daninhas resistentes para alguns grupos de herbicidas, apesar de alguns estarem sendo empregados a longo tempo, não são claras, porém acredita-se que estejam relacionadas com o modo e o mecanismo de ação.
A resistência de plantas daninhas a herbicidas assume grande importância, principalmente em razão do limitado número de herbicidas alternativos para serem usados no controle dos biótipos resistentes. O número de ingredientes ativos disponíveis para controle de algumas espécies daninhas é restrito, e o desenvolvimento de novas moléculas é cada vez mais difícil e oneroso. A ocorrência de resistência múltipla agrava ainda mais o problema, já que, neste caso, são dois ou mais os mecanismos que precisam ser substituídos. Assim, o controle dos biótipos resistentes com o uso de herbicidas é comprometido, o que restringe esta prática a outros métodos menos eficientes.
1 Eng.-Agro., Pesquisador da Embrapa Trigo na área de manejo e controle de plantas daninhas. Caixa Postal 451. Passo Fundo, RS 99001-970 vargas@cnpt.embrapa.br.
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