Setembro, 2006 |
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Manejo de plantas daninhas na cultura de milho
Leandro Vargas1
Claudio Miranda Peixoto2
Erivelton Scherer Roman1
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho (Zea mays L.), o qual ocupa a maior área cultivada entre as principais culturas (14 milhões de hectares). Este cereal é a principal fonte de alimento para criações, principalmente de suínos e aves, quer via ração, quer via silagem de planta inteira e de grãos úmidos, sendo também usado diretamente na alimentação humana, substituindo a farinha de trigo. Além disso, serve como matéria-prima para grande variedade de produtos industriais, como cola, óleo, álcool e bebidas, entre outros.
Milho é cultivado praticamente em todas regiões do Brasil e sua produção aumenta a cada ano, contudo, o país ainda é um importador deste cereal. Apesar de a cultura de milho estar adaptada a diferentes regiões do Brasil e possuir grande potencial de produção, o rendimento médio é extremamente baixo, próximo de 2.000 kg ha-1, quando comparado com o obtido nos Estados Unidos que é de 8.000 kg ha-1. A baixa tecnologia, as condições ambientais e a falta de assistência técnica e de incentivos à cultura são consideradas as principais causas desse fato.
O controle inadequado de plantas daninhas (espécie vegetal que se desenvolve onde não é desejada) é um dos principais fatores relacionados ao baixo rendimento da cultura de milho. Nesta cultura, as perdas de rendimento devido à interferência de plantas daninhas variam entre 10% a 80%, de acordo com as espécies daninhas envolvidas, com o número de plantas por área, com o período de competição, com o estádio de desenvolvimento da cultura e com as condições de solo e clima.
Plantas daninhas apresentam características que lhes conferem elevada agressividade mesmo em ambientes adversos ao desenvolvimento de milho, como por exemplo, uso mais eficiente de água em regiões com baixa disponibilidade hídrica. As principais características são: rápida germinação e crescimento inicial, sistema radicular abundante, grande capacidade de absorver nutrientes e água do solo, elevada eficiência no uso da água e grande produção e disseminação de propágulos. Essas espécies afetam diretamente a vida dos agricultores, independentemente do tamanho da sua propriedade, quer seja minifúndio ou latifúndio, devido à competição com as culturas por água, nutrientes, luz, espaço e CO2, o que reduz o rendimento de grãos, aumenta os custos de produção e, conseqüentemente, diminui a renda do produtor.
Além de reduzir o rendimento de grãos das culturas, as plantas daninhas podem causar outros problemas, como: reduzir a qualidade de grãos, provocar maturação desuniforme, causar perdas e dificuldades na operação de colheita, servir de hospedeiro para pragas e doenças e também podem liberar toxinas altamente prejudiciais ao desenvolvimento das culturas.
Contudo, apesar de as plantas daninhas apresentarem vários aspectos negativos, sob ponto de vista botânico e ecológico elas também apresentam vantagens, como: servem de alimento para animais silvestres; representam fonte potencial de plantas úteis e depósito de germoplasma; muitas espécies possuem valor apícola e/ou medicinal; auxiliam na prevenção e combate da erosão; reciclam nutrientes e podem extrair metais pesados e outros poluentes da água (Fleck, 1992). As espécies daninhas também podem, por meio da alelopatia, impedir a germinação e/ou o desenvolvimento de outras espécies de plantas, favorecendo o manejo destas em culturas, principalmente no sistema plantio direto (Silva et al., 1999).
A competição é a disputa que se estabelece entre a cultura e as plantas daninhas por água, luz, nutrientes e dióxido de carbono disponíveis em um determinado local e tempo. Por essa competição envolver vários fatores diretos e indiretos, muitas vezes, é preferível falar-se em interferência de uma comunidade de plantas, daninhas ou não, sobre outras (Locatelly & Doll, 1977). Esse fenômeno ocorre naturalmente em uma comunidade de plantas onde existem recursos limitados, tendendo a ser maior e mais prejudicial para ambos os competidores, quanto mais semelhantes forem as exigências ambientais e o hábito vegetativo destas. Um exemplo são as espécies de gramíneas, que por apresentarem sistema radicular semelhante ao de milho, possuem maior capacidade de causar dano a milho, devido à competição, do que outras espécies.
Nos ecossistemas agrícolas, plantas daninhas levam vantagem competitiva sobre plantas produtoras de grãos, pois o melhoramento genético de culturas objetiva obter acréscimo no rendimento econômico, e isso quase sempre é acompanhado por decréscimo no potencial competitivo (Pitelli, 1985). Outro aspecto importante é a maior agressividade, ou seja, a sua grande capacidade de sobrevivência, diminuindo ou impedindo que plantas cultivadas tenham acesso aos recursos do ambiente. Dessa forma, em algumas situações ocorre grande competição entre culturas produtoras de grãos e plantas daninhas pelos recursos, sobressaindo a espécie mais eficiente em capturá-los. Cabe aos produtores e agrônomos utilizar os métodos de controle e as práticas culturais de forma a aumentar as chances de a cultura superar as plantas daninhas na competição pelos recursos.
O controle consiste em suprimir o crescimento e/ou reduzir o número de plantas daninhas por área, até níveis aceitáveis para convivência entre as espécies envolvidas, sem prejuízos para as mesmas. Os métodos de controle de plantas daninhas são: preventivo, cultural, mecânico, químico e biológico. O método químico, por meio de herbicidas, é o mais empregado nas grandes lavouras de milho; os agricultores raramente empregam os demais métodos de controle. As práticas culturais, como o preparo do solo, a adubação, a escolha de cultivares ou híbridos mais adequados, a época da semeadura, o número de plantas por área, a rotação de cultura (principalmente com culturas de cobertura de inverno que sejam capazes de suprimir o crescimento), a redução do espaçamento entre-linhas e as consorciações, contribuem para um controle eficiente dessas espécies e nem sempre aumentam o custo de produção; ao contrário, podem até mesmo reduzíi-lo.
1 Eng.
Agrôn., Pesquisador da Embrapa Trigo na área de manejo e controle de plantas daninhas.
Caixa Postal 451. Passo Fundo, RS 99001-970 vargas@cnpt.embrapa.br.
2 Eng. Agrôn. Pioneer sementes.
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