Embrapa Trigo

Setembro, 2006
Passo Fundo, RS

61

Competição pelos recursos e a capacidade competitiva de milho

 

a) Competição por água

A água é um recurso escasso em determinadas regiões, e a presença de espécies daninhas altamente eficientes no seu uso a torna fator limitante de produção na maioria das regiões em que se cultiva milho, no Brasil. A falta de água limita o crescimento da parte aérea e radicular da planta e também reduz a eficiência fotossintética. Milho cresce menos que Amaranthus retroflexus (caruru gigante) e Abutilon theophrasti em condições de baixa umidade (Cardina et al., 1995; Vangessel et al., 1995), indicando assim que a cultura de milho possui menor capacidade de absorver água do que a planta daninha. Dessa forma, a limitação do crescimento da planta de milho diminuirá o volume de raízes da mesma e com isso ela terá menor capacidade de absorver água e nutrientes, resultando em menor crescimento total. Isso resultará na conseqüente redução da fotossíntese total; o que provocará redução do rendimento de grãos. A deficiência de água também induz o fechamento de estômatos, fazendo com que a fotossíntese seja paralisada e o rendimento de grãos drasticamente reduzido.

A eficiência do uso de água é de grande importância em situações de deficiência. Certas espécies de plantas daninhas são capazes de usar menos água por unidade de matéria seca produzida do que outras, ou seja, apresentam elevada eficiência no uso de água. Nesse sentido, a planta de milho, por apresentar rota fotossintética C4 (eficiente no uso de água), leva vantagem sobre aquelas com rota fotossintética C3 (menos eficientes no uso de água), mas não sobre aquelas espécies que possuem igual rota fotossintética, como é o caso das plantas daninhas tiririca (Cyperus rotundus), capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), grama-seda (Cynodon dactylon), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), capim-colchão (Digitaria horizontalis), caruru (Amaranthus retroflexus), entre outras. Esse fato explica a maior preocupação com o controle das espécies gramíneas, em relação às espécies daninhas de folhas largas.

 

b) Competição por nutrientes.

A competição por nutrientes é outro fator importante, pois algumas plantas daninhas são mais eficientes do que milho na absorção desses elementos. Nesse tipo de competição devem-se levar em consideração a eficiência, o número de plantas por área e o potencial de absorção, uma vez que algumas plantas daninhas podem ser altamente eficientes em absorver nutrientes, entretanto, devido ao seu pequeno tamanho, a quantidade total absorvida não é significativa (Van Acker et al., 1993).

O uso da adubação para superar a competição por nutrientes pode ser eficiente em alguns casos e agravar o problema em outros. As adubações pesadas aumentam o crescimento tanto de plantas daninhas quanto da cultura. Na verdade, a competição estará se intensificando e a espécie mais capaz irá sobressair-se (Fleck, 1992). Na maioria dos casos, as plantas daninhas beneficiam-se mais das adubações do que as culturas produtoras de grãos, por absorverem com maior eficiência e maiores quantidades de nutrientes. Assim, a adubação pode estimular o maior crescimento de plantas daninhas, reduzindo ainda mais o rendimento de grãos. Esse fato pode tornar-se ainda mais grave quando essa competição ocorre na linha de plantio. Entretanto, em casos em que a cultura produtora de grãos apresenta maior absorção de nutrientes, a adubação proporcionará maior benefício à cultura e, dessa forma, essa prática poderá ser eficiente.

 

c) Competição por luz.

A competição por luz é outro fator que pode afetar significativamente o rendimento de grãos de milho. As plantas necessitam de luz em quantidade suficiente para realizar fotossíntese. Na competição por luz, milho leva vantagem sobre muitas plantas daninhas, por possuir rota fotossintética C4 e assim ter ponto de compensação luminoso elevado, conferindo ampla adaptabilidade às condições tropicais. Contudo, as plantas daninhas com rota fotossintética C4, como as gramíneas por exemplo, apresentam rápido crescimento e competem fortemente com milho nesse ambiente.

A cultura de milho não apresenta elevada cobertura do solo, principalmente nos estádios iniciais do seu desenvolvimento, assim, as plantas daninhas que se desenvolvem entre suas fileiras recebem luz e crescem com maior facilidade do que em culturas com elevada taxa de cobertura do solo, como soja. Nos estádios iniciais de desenvolvimento, enquanto as plantas daninhas alcançam até 20% do seu crescimento total, a cultura de milho não atinge 5% (Foster, 1991). Em conseqüência disso, muitas vezes o controle de plantas daninhas deve ser realizado o mais cedo possível, devido à agressividade de algumas espécies daninhas, visando evitar os efeitos dessas espécies sobre o rendimento de grãos da cultura.

O espaçamento entre-linhas da cultura produtora de grãos merece grande atenção, pois quanto menor o espaçamento adotado, menor será o tempo necessário para a cultura cobrir a superfície do solo, reduzindo o espaço e sombreando as plantas daninhas. A redução do espaçamento entre-linhas de milho diminui o número de plantas e o crescimento de Cyperus esculentus (tiriricão, junquinho) e Amaranthus retroflexus (caruru gigante) devido ao sombreamento das espécies daninhas pela cultura (Teasdale, 1998).

Atualmente, os produtores vêm reduzindo o espaçamento entre-linhas de milho para 70 cm. Entretanto, as colhedoras fabricadas mais recentemente, permitem a colheita de milho com espaçamento de até 45 cm e os produtores indicam forte tendência na utilização desse espaçamento, já que esta é uma maneira de ajustar o espaçamento de milho com o da cultura de soja, facilitando, no entendimento destes, o trabalho do dia-a-dia na propriedade, apesar de não apresentarem dados consistentes que comprovem o aumento do rendimento de grãos de milho pela redução do espaçamento entre-linhas.

Estudos desenvolvidos por vários órgãos de pesquisa e empresas produtoras de sementes apresentam dados contraditórios e demonstram dependência do genótipo, do manejo (como a população de plantas) e do próprio ambiente, envolvendo a fertilidade do solo e a disponibilidade hídrica.

A adoção de um menor espaçamento significa melhor distribuição das plantas produtoras de grãos na superfície do solo, isto é, melhor arranjo espacial, maior aproveitamento de espaço e da luz do sol e maior sombreamento, evitando novos fluxos germinativos (reinfestação ou emergência em camadas) de plantas daninhas. O uso de espaçamento menor, aumenta à capacidade competitiva de milho sobre as plantas daninhas, devido a melhor distribuição do sistema radicular e à melhor cobertura do solo, provocando sombreamento de plantas daninhas (Teasdale, 1998).

O aumento do número de plantas produtoras de grãos por área, ou população de plantas, pode ser vantajoso em alguns casos. Milho cultivado em densidade maior e com menor espaçamento, diminui o crescimento de plantas daninhas e aumenta a eficiência do controle, inclusive quando se emprega doses reduzidas de herbicidas (Teasdale, 1998). O aumento da população de plantas de milho mostrou potencial para reduzir drasticamente ou até mesmo eliminar completamente a produção de sementes de Abutilon theophrasti (Teasdale, 1998). Segundo Merotto Júnior et al. (1997), o aumento do número de plantas de milho diminui o efeito da competição com plantas daninhas, principalmente para os métodos de controle menos efetivos e é eficiente em reduzir matéria seca de plantas daninhas. Ainda segundo estes autores, as plantas daninhas presentes provocaram maior decréscimo no rendimento de grãos de milho, na maior população estudada (80.000 pl. ha-1), uma vez que a competição com plantas daninhas somou-se à competição intra-específica que também é maior do que nas populações menores. Já Martinez et al. (1982) constataram que o aumento da densidade de plantas de milho de 44.000 para 66.000 pl. ha-1 não teve efeito sobre o controle de plantas daninhas.

Entretanto, é importante salientar que os técnicos e os produtores devem saber claramente que o aumento da população de plantas de determinado híbrido de milho está diretamente ligado às características desse híbrido, ao nível de fertilidade do solo, ao nível de adubação empregado e à disponibilidade de água, dentre outros fatores. Assim, para que se adote a prática do aumento da população de plantas, como auxílio no controle de plantas daninhas, é de suma importância que se estude primeiramente a viabilidade da adoção desta prática, levando-se em consideração os fatores acima mencionados.

A capacidade competitiva da cultura de milho é uma característica que deve ser explorada para auxiliar o controle de plantas daninhas. A escolha de híbridos de milho com estabelecimento rápido e uniforme de plântulas e crescimento vegetativo vigoroso, para obter a cobertura do terreno em curto espaço de tempo, é de grande importância para reduzir os efeitos da competição das espécies daninhas sobre a cultura. As plantas que emergem e se estabelecem primeiro, tendem a levar vantagem em situação de competição. Assim, devem-se adotar todas as práticas que permitam a cultura obter vantagens competitivas sobre as plantas daninhas.

Para obter uma lavoura uniforme e com rápido estabelecimento deve-se escolher híbridos de milho adaptados para a região, adquirir sementes de qualidade, usar o número de plantas adequado por área, com adequada distribuição (reduzir, de acordo com as possibilidades, ao máximo, o espaçamento entre fileiras), o solo deve estar equilibrado nutricionalmente, a adubação de base deve permitir à cultura rápido desenvolvimento inicial (elevado nível de nitrogênio na fórmula), a semeadura deve ser realizada de tal forma que as sementes tenham íntimo contato com o solo e que as condições ambientais, principalmente de umidade e de temperatura, permitam rápida emergência e desenvolvimento inicial.

Portanto, fica claro que a redução do rendimento de grãos de milho devido à competição é dependente da espécie daninha, do número de espécies de plantas daninhas existentes na área, da densidade dessas plantas, do período de competição e das condições climáticas, principalmente chuva e temperatura. Controle considerado eficiente é aquele que na fase de planejamento leva em consideração todos estes fatores.


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