Dezembro, 2007
81
Passo Fundo, RS
Controle

Entre as estratégias de controle desta virose estão as práticas culturais, o controle químico e o controle biológico do vetor e a resistência genética da planta hospedeira ao vírus e/ou ao vetor (Fig. 6). As práticas culturais visam eliminar as “pontes verdes” que atuam como reservatórios do vírus e seu vetor fornecendo inóculo para culturas sadias em desenvolvimento. O controle do vetor apresenta dupla função, pois além de evitar a disseminação do vírus, elimina os danos diretos provocados na planta pelos afídeos. Existem três estratégias que podem ser utilizadas para este fim: o controle biológico, o controle químico e a resistência genética. O controle biológico, realizado por espécies de microimenópteros, teve grande êxito no Brasil reduzindo de forma considerável a população de afídeos (Salvadori & Tonet, 2001). O controle químico pode ser realizado no tratamento de sementes e em aplicações após o estabelecimento da cultura, que são determinadas em função da população do afídeo (Salvadori & Tonet, 2001). A resistência genética da planta ao vetor, que inclui mecanismos como a não preferência, antibiose e tolerância (Painter, 1968), é considerada o método ideal para o controle de pragas, uma vez que não necessita da operação de aplicação, não apresenta custos diretos para o agricultor, não contamina o ambiente, sendo compatível com os demais métodos de controle. No Brasil, estudos de resistência de genótipos de trigo a afídeos foram realizados, sobretudo para o pulgão verde (S. graminum) (Rosa & Tonet, 1986) resultando em cultivares como Trigo BR 36 – Ianomâmi, resistente a alguns biótipos desta espécie.

A resistência genética ao vírus é caracterizada pela redução total ou parcial do título viral na planta, enquanto que a tolerância é caracterizada pela manutenção da produtividade e ausência de sintomas, mesmo a planta hospedeira suportando títulos virais similares a genótipos suscetíveis.

Entre os cereais cultivados existem poucas fontes de resistência disponíveis, sendo que, em sua maioria, tais fontes são apenas tolerantes ao vírus. Em geral, a tolerância ou a resistência é específica para certos isolados de um serotipo (Gray et al., 1993). Em cevada, o gene semidominante Yd2, que confere resistência a PAV e MAV (Baltenberger et al., 1987), tem sido empregado na produção de genótipos resistentes. Em trigo, o gene Bdv1, parcialmente dominante, confere tolerância ao BYDV (Singh et al., 1993). A escassa disponibilidade de fontes de resistência vem tornando necessária a busca e incorporação de resistência a partir de outras espécies e gêneros da família Triticeae. O gênero Thynopyrum tem se mostrado uma fonte de resistência a diversas doenças dos cereais (Jones et al., 1995). Recentemente um segmento cromossômico de Thynopyrum intermedium contendo o gene de resistência Bdv2 foi introduzido no genoma do trigo e linhagens de trigo resistentes ao BYDV foram obtidas. Marcadores moleculares baseados em PCR para o gene Bdv2 estão disponíveis auxiliando na transferência deste gene para cultivares comerciais (Zhang et al., 2004). Este gene confere resistência completa para o subgrupo II de BYDV em todos os tecidos da planta, e resistência parcial para o subgrupo I (PAV) em tecidos da folha e da haste e nenhuma resistência na raiz. Apesar do uso destes genes em programas de desenvolvimento de cultivares resistentes, e da disponibilidade de marcadores moleculares localizados próximos, estes genes ainda não foram isolados e caracterizados.

No Brasil, em uma avaliação de genótipos de trigo, em que a ampla maioria foi considerada suscetível ou intolerante à virose, os genótipos IAS-28, Londrina (Pel 14410-64) e Norin, pelo nível de resistência e tolerância que apresentaram, foram consideradas fontes promissoras de resistência para os programas de melhoramento (Caetano, 1972). Mais recentemente, cultivares como BR 34 e BR 35 (descendente de IAC-5 Maringá, também considerada uma fonte de resistência ao nanismo amarelo, e de Londrina) foram consideradas fontes de resistência capazes de produzir descendentes tolerantes à virose (Barbieri et al., 2001).

As poucas fontes de resistência disponíveis e a baixa herdabilidade, devido ao caráter complexo de controle genético de características como a tolerância, têm obrigado a busca por novas alternativas para o desenvolvimento de plantas resistentes. Tais alternativas se tornaram possíveis com o advento da biologia molecular. No campo da resistência natural, a biologia molecular tem auxiliado no estudo dos mecanismos envolvidos na resistência. Neste sentido, não apenas as informações geradas dentro da própria cultura, mas também de outros hospedeiros e plantas modelo, podem fornecer alvos para a manipulação genética. Em trigo, um conjunto de genes potencialmente envolvidos na resistência foi detectado por meio da análise de expressão diferencial e poderão constituir alvos importantes para a manipulação gênica visando à resistência (Jiang et al., 2004). Outra alternativa de obtenção de plantas resistentes, particularmente empregada para viroses, é denominada de resistência derivada do patógeno. Esta consiste na manipulação e inserção de genes do próprio vírus na planta hospedeira. Existem duas estratégias que podem ser utilizadas: resistência mediada por RNA ou resistência mediada por proteínas (Baulcombe, 1996). Ambas as estratégias dependem de trabalhos prévios de clonagem e seqüenciamento de genes do patógeno. A resistência mediada ao nível de proteína baseia-se na interferência em etapas do ciclo viral, enquanto a resistência ao nível RNA baseia-se na ativação do silenciamento gênico pós transcricional que, em plantas, é considerado um mecanismo de defesa a vírus (Vance & Vaucheret, 2001). Sobretudo para esse último, é importante conhecer a variabilidade da população viral uma vez que o mecanismo é ativado de forma seqüência específica. Assim, em havendo grande variabilidade na população viral quanto à seqüência utilizada no desenvolvimento da planta transgênica, as plantas poderão ser resistentes para apenas alguns isolados do vírus.


 

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