Dezembro, 2007
90
Passo Fundo, RS

 

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Cultivares de trigo Embrapa lançadas após 1987

Cláudia De Mori
Pedro Luiz Scheeren

Identificação da tecnologia

Descrição da tecnologia

Conjunto de cultivares de trigo lançadas após 1986, com indicação para cultivo na região sul ainda em vigência. As cultivares caracterizam-se por porte baixo, elevado potencial de rendimento de grãos, alto índice de colheita e resistência à doenças (ferrugem da folha e do colmo, oídio e giberela) e com adaptação aos estresses bióticos ou climáticos. As cultivares apresentam faixas de variação de qualidade tecnológica, o que possibilita a escolha de um tipo de trigo, ou de mesclas, para atender aos diferentes usos finais.

Dentre as 46 cultivares lançadas desde 1986, indicadas para região sul, destacam-se: BR14, BR15, BR18, BR23, Embrapa 16, Embrapa 40, BRS49, BRS177, BRS179, BRS194, BRS208, BRS210, BRS220, BRS Angico, BRS Timbaúva e BRS Guamirim.

O conjunto de cultivares avaliadas, lançadas após 1986 com vigência de indicação nos estados da região sul, compreende as seguintes cultivares: BR 18-Terena (lançada na década de 80), Embrapa 16, Embrapa 27, Embrapa 40, BRS 49, BRS 119, BRS 120, BRS 176, BRS 177 e BRS 179; (lançadas na década de 90), BRS 193, BRS 194, BRS 208, BRS 209, BRS 210, BRS 220, BRS Angico, BRS Figueira, BRS Timbaúva, BRS Umbu, BRS Camboatá, BRS Louro, BRS Buriti, BRS 234, BRS Guabiju, BRS Tarumã, BRS Guatambu, BRS Camboim, BRS Canela, BRS 229, BRS 248, BRS 249, BRS Guamirim (lançadas após 2000).

Dentre os principais parceiros que contribuíram no desenvolvimento de cultivares de trigo, além das unidades Embrapa Clima Temperado e Embrapa Soja, podem-se citar: Fundacep/Fecotrigo, Fepagro/Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul, Epagri/SC, IAPAR/PR, Cooperativa Agrária, Fundação ABC, Ocepar, Cotrijal, Cotrijui, Coopermil, Cotrel, Abitrigo, Sinditrigo/RS, Fundação Pró-Semente e Fundação Meridional.

Ano de lançamento

1986

Ano de início de adoção

1988

Abrangência

Região Sul – PR, SC e RS

Beneficiários

Complexo Agroindustrial do Trigo

Identificação dos impactos na cadeia produtiva

Dos cereais utilizados na alimentação humana, o trigo é o mais nobre em relação à qualidade e a quantidade de proteínas, constituindo importante componente da dieta alimentar. É empregado na alimentação humana na forma de farinhas para uso em panificação (macarrão, biscoitos, bolos, pães), na elaboração de fármacos, na fabricação de cola, bem como na alimentação animal, como forragem, grão ou na composição de ração. O trigo representa aproximadamente 30% da produção mundial de grãos.

Segundo dados do censo (IBGE, 1996), o conjunto de produtores de trigo no Brasil é de aproximadamente 64 mil propriedades, sendo que 70% destes cultivam áreas com trigo menores de 10 ha. Segundo o estudo INCRA/FAO (2000), 49% da produção de trigo na região sul é realizada por propriedade de base familiar. A produção brasileira de trigo representa em média 1,7% do Valor Bruto da Produção (VBP) (IBGE, 2007b).

No Brasil estima-se que 94,5% da produção destina-se ao processamento industrial, 2,5% seja reserva de semente e aproximadamente 3% destina-se diretamente na alimentação animal. Segundo Abitrigo (2003), estima-se que 55% da farinha processada seja consumida na indústria da panificação; 17%, consumo doméstico, 15% destina-se às massas, 11%, para biscoitos e 2% para produção de fármacos, cola e uso na alimentação animal. Estima-se que a produção de trigo envolva 450 mil empregos e o segmento agroindustrial do setor trigo, como um todo, gere 1,1 milhão de empregos diretos.

Até a década de sessenta, cerca de 90% do trigo nacional era produzido no Rio Grande do Sul, porém ao longo da década de oitenta, a triticultura expandiu-se para outros estados. No qüinqüênio 2002-2006, o Paraná foi responsável, em média, por 50,5% da área colhida e 53,4 % da quantidade produzida e o Rio Grande do Sul, por 39,2% da área colhida e 36,0 % da quantidade produzida, seguidos por Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Distrito Federal responsáveis por 3,9%, 2,9%, 2,2%, 0,7%, 0,5%, 0,05% e 0,04% da área colhida e 2,6%, 3,0%, 2,5%, 1,3%, 1,0%, 0,04% e 0,02% da quantidade produzida, respectivamente.

Até 2000, a produção brasileira respondia por aproximadamente 27% do nosso consumo. A produção média de 2,5 milhões de toneladas, implicava a necessidade de importação de aproximadamente 7 milhões de toneladas ano do cereal, contribuindo negativamente na balança comercial. No período de 2000-2004, observou-se incremento da área semeada e da quantidade produzida de trigo no Brasil, chegando a representar 60% do consumo doméstico, resultado de fatores como o pacto de recuperação da triticultura nacional alinhavado entre governo e organizações empresariais, o cenário de redução de produção e de estoques mundiais, o aumento do consumo para fins de ração animal, o aumento de preços no mercado internacional, os problemas econômicos da Argentina, a mudança da política cambial, com a desvalorização do real e as condições climáticas favoráveis. Após este período de crescimento expressivo de produção de trigo no Brasil, a área plantada e a quantidade produzida voltaram a sofrer retração em decorrência da redução do preço, da situação cambial desfavorável e das condições climáticas adversas. No ano de 2006, a produção brasileira de trigo foi de 2,372 milhões de toneladas, 49,1% menor que a quantidade produzida em 2005. Foram importados 6,53 milhões de toneladas de trigo grãos e 135,7 mil toneladas de farinha de trigo.

Até o início dos anos 80, as estatísticas da produção de trigo no Brasil apontam para rendimentos médios ao redor de 800 quilogramas por hectare. As principais demandas da produção tritícola brasileira consistiam em cultivares com maior resistência às doenças, adaptação a solos ácidos e as oscilações do ambiente. Desta forma, os esforços do melhoramento visando ao aumento de produtividade centravam-se na resistência a doenças e tolerância ao alumínio tóxico às plantas, que causa o crestamento em trigo. Paralelamente, foram introduzidas cultivares de porte baixo, buscando alterar o tipo agronômico da planta de trigo e reduzir os problemas de acamamento da cultura. Por meio do cruzamento com cultivares brasileiras de porte alto, eram selecionadas plantas adaptadas ao clima subtropical úmido e temperado do Brasil, utilizando métodos convencionais de melhoramento envolvendo os sistemas massal e, principalmente, genealógico.

Aspectos como qualidade tecnológica (brando, pão, melhorador e durum), envolvendo características reológicas da farinha e uso final do produto econômico (pão, biscoito, massa, etc.), não eram, então, fatores considerados como muito importantes nos processos de seleção e criação de novas cultivares de trigo para o Brasil.

Estas 46 cultivares de trigo, lançadas no período de 1987-2006, têm expressiva contribuição no aumento da diversidade de germoplasma e maior potencial produtivo e genético do material em cultivo no Brasil; na redução de perdas de lavoura; na redução de custos e de manejos nocivos ao ambiente (redução de aplicações de agroquímicos); e na melhor qualidade tecnológica para indústria (em especial, características reológicas como força de glúten, tenacidade da massa e vitrosidade de grãos), propiciando a segmentação de tipos de grãos de acordo com a especificação de produto final, aumentando, assim, a competitividade do complexo tritícola nacional.

Em relação ao material em cultivo nestes estados, 12 cultivares, no Rio Grande do Sul, e 18 cultivares, no Paraná, são descendentes da cultivar Embrapa 27. Da mesma forma, cultivares como BRS 179 e BRS 208, de ampla adaptação e com resistência às principais doenças, vem contribuindo para que se obtenha bons rendimentos com baixo uso de fungicidas, baixo custo e excelente qualidade industrial. Em 2002, foram lançadas as primeiras cultivares da Embrapa de classe comercial Trigo Melhorador, BRS 209 e BRS 210, até então representada por apenas três cultivares nacionais, isto é, criadas e desenvolvidas no país.

A adoção de ferramentas biotecnológicas, como a haplodiploidização e avaliação por marcadores protéicos para qualidade tecnológica, em suas atividades de criação de cultivares de trigo a partir de 1994, tem possibilitado a redução no tempo de criação de novos materiais com especificação antecipada do potencial de uso final do produto econômico. Assim, são economizados anos, espaço e mão-de-obra de seleção, e a avaliação do germoplasma torna-se mais fácil e eficiente. Em 2004, foi lançada a linhagem PF 979064, duplohaplópide obtido via gimnogênese. A adoção dessas ferramentas propiciou a redução no tempo despendido, desde o cruzamento que originou o germoplasma até seu lançamento para cultivo em lavoura comercial, de 14 anos, necessários no melhoramento convencional, para oito anos.

Avaliação dos impactos econômicos

Tipo de impacto: Incremento de produtividade

Análise dos impactos econômicos

No ano de 2006, observou-se redução de 34,6% na área de plantio em relação a 2005 e redução de 49,1% da quantidade produzida, em decorrência das condições desfavoráveis de mercado e das condições climáticas adversas com ocorrência de geadas tardias nos estados do Paraná e no Rio Grande do Sul, apresentando um cenário negativo para a cultura. Com relação a participação de mercado, observou-se um aumento da participação de cultivares de trigo da Embrapa no Paraná, em especial, das cultivares BRS 208 e BRS 220, e um decréscimo de participação no Rio Grande do Sul, de 40% para 27%, principalmente pela quebra de resistência para a ferrugem da folha da cultivar BRS 194. Considerando um acréscimo de produtividade de 172 kg/ha (R$60,20/ha) em relação a produtividade média observada no período 1982-1986 e uma área de 425.127ha semeada com cultivares Embrapa em 2006 (aproximadamente 29,9% da área total colhida na região sul) estima-se um benefício econômico na ordem de R$ 17.914.847,00 como contribuição da Embrapa (participação da Embrapa na geração destas novas cultivares avaliada em 70%) no setor tritícola (tabelas 2 e 3). Tal contribuição auxilia na manutenção de sistemas agrícolas na região sul, através da estabilidade de fluxo de caixa, otimização de capital fixo e adicional de renda decorrente de produtividade, bem como, redução de riscos da atividade tritícola.

No período 2000-2006, a adoção de cultivares de trigo Embrapa gerou um adicional econômico nominal na ordem de R$765,6 milhões, podendo R$535,9 milhões serem creditados como contribuição da Embrapa, ou seja, uma contribuição média de R$76,6 milhões/ano.

O esforço dos programas de melhoramento tem permitido um crescente aumento de rendimento no cultivo de trigo da década de 70 para a década de 80: 745,3 kg/ha (década de 60); 832,7 kg/ha (década de 70); 1.335,7kg/ha (década de 80); 1.499,8 kg/ha (década de 90) e 1.926,8kg/ha (2000-2006) (Fig. 1).

Outro importante elemento na avaliação consiste na estabilidade do produto obtida pelas novas cultivares no atendimento as especificações de diferentes segmentos da indústria de derivados de trigo. Essas características têm contribuído para a competitividade do setor, para o fortalecimento da produção interna e com a ampliação da abrangência geográfica do cultivo do trigo no país.

Avaliação dos impactos sociais

O índice geral de impacto social da tecnologia analisada foi de 0,93 a 1,39, na escala que varia de +15 a – 15 (Fig. 2). Observa-se que os principais impactos sociais positivos das cultivares desenvolvidas relacionam-se com a geração de renda, relacionamentos institucionais e capacitação.

Do ponto de vista do emprego, além de contribuir na oferta de emprego, as cultivares tem induzido a capacitação técnica de curta duração do trabalhador braçal qualificado (coeficiente de impacto de 1,75 para ambos os entrevistados) referente ao manejo de recursos e na incorporação de critérios na escolha das variedades e, conseqüentemente, induziu a uma maior utilização de assistência técnica.

Segundo dados do Censo de 1995/1996, foram registradas 63 mil propriedades com cultivo de trigo no Brasil. Estima-se que a produção do cereal envolva 450 mil pessoas. Considerando a relação estabelecida por Contini (1990), de 46,6 empregos diretos e indiretos gerados a cada US$ 123.062,00 obtidos em lavouras de soja e trigo, pode-se estimar a geração de 3.119 postos de trabalho no ano de 2006.

Estima-se que o segmento agroindustrial do trigo seja responsável por 1.100mil empregos: 580 mil na indústria da panificação e confeitaria, 30 mil na indústria de moagem, 450 mil na produção de trigo e outros 40 mil vinculados a setores massas e demais derivados (Abitrigo, 2003). Existem no país aproximadamente 200 moinhos, 52 mil panificadoras, 876 indústrias de biscoito e 350 indústrias de macarrão.

Em termos de renda, as cultivares de trigo desenvolvidas pela Embrapa tem contribuído positivamente por meio de geração de renda adicional, com o aumento de produtividade e fluxo de caixa com renda de inverno; por constituir-se numa alternativa para plantio no inverno (diversidade de fonte de renda); ou pelo valor da propriedade pela diferenciação de valor no preço de produto dado o tipo de produto (pão ou melhorador), melhorando as condições de comercialização. Segundo os entrevistados, este aspecto parece ser o de maior impacto, com o coeficiente de impacto de 3,75 a 5.

Considerando o aspecto de saúde, as novas cultivares auxiliam em aspectos de garantia de produção e no aumento da oferta (elevação da produtividade do cereal). Por duas ocasiões o país produziu 60% da sua demanda, o que demonstra a existência de suporte técnico para tal produção que no, entanto, é extremamente influenciada por questões climáticas, macroeconômicas e políticas. Os impactos na segurança e saúde ocupacional são controversos. Para um dos entrevistados, houve uma pequena redução da exposição do indivíduo a agentes químicos, ruído, umidade, etc. (coeficiente de impacto 0,2), para outro, isto não aconteceu (coeficiente de impacto -0,5).

Buscando suprir as exigências de mercado, foram ofertadas ao agricultor cultivares de trigo com diferentes tipos comerciais. Isto contribuiu com alterações no processo de armazenagem e comercialização do trigo, com agregação de valor ao produto e estabelecimento de relações comerciais encadeadas ou estabelecimentos de contratos com compra antecipada e com maior uso de assistência técnica e organização associativa/cooperativa (coeficientes de impacto de condições de comercialização de 0,35 e 1,05 e coeficientes de impacto de relacionamento institucional 1,25 e 4,0). A diversificação de cultivares implica numa maior capacitação dirigida a atividade, uso de sistema contábil e de planejamento, aspectos positivos em termos de gestão da propriedade agrícola e para um dos entrevistados, isto implica em uma maior dedicação e perfil do responsável (coeficiente de impacto de 4,0).

Avaliação dos impactos ambientais

O percentual de participação das cultivares de trigo da Embrapa na área total de trigo cultivada na região sul do país (PR, SC e RS), entre 2000-2006, tem oscilado entre 27,1% a 30,1%. Em 2006, aproximadamente 30%, ou seja 425.127ha, foram cultivados com material desenvolvido pela Embrapa na região sul.

Os impactos das cultivares de trigo lançadas pela Embrapa após 1986 e ainda em indicação de uso centram-se em aspectos ligados a eficiência técnica, observando-se um índice de impacto de 0,01 e 1,91 (Fig. 3).

Em termos de eficiência tecnológica, observam-se alterações em termos de uso de insumos e de energia. No caso de insumos, constata-se o aumento no uso de variedades de ingredientes ativos (+1) e quantidade de adubos hidrossolúveis (+1) e redução na toxidade dos pesticidas usados (-1) e no uso de calagem (-3) para ambos os entrevistados. Observou-se divergência na avaliação, por parte dos entrevistados, dos aspectos de freqüência de uso de pesticida (-1 e +1), de micronutrientes (sem efeito e + 1) e de diesel (-1 e +1) quanto ao aumento ou diminuição no seu uso. Para um dos entrevistados, o aumento do rendimento de grãos reduz pressão sobre área o que contribuiria para redução do uso de recursos naturais (coeficiente de impacto de uso de recursos naturais de 5 – entrevistado 1).

Com relação à conservação ambiental, segundo os entrevistados, observa-se que as novas cultivares significam perda de espécies/variedades caboclas (+1), resultando numa alteração negativa do ponto de vista da biodiversidade (coeficiente de impacto de -0,5). Em relação à atmosfera não se registrou efeitos da tecnologia.

Para um dos entrevistados, a oferta de materiais com maior desenvolvimento de palhada (perfilhamento) pode contribuir para a redução de erosão e de matéria orgânica em algumas situações, assim como auxiliar na recuperação ambiental de solos degradados (coeficiente de impacto de capacidade produtiva de solo de 0,0 e 2,5).

De modo geral, pode-se citar como contribuições positivas ao ambiente: redução na toxidade dos pesticidas utilizados; redução na necessidade de calagem; e efeitos auxiliares na redução de erosão e perda de matéria orgânica e recuperação de solos degradados. Como pontos negativos da sua aplicação têm-se o aumento da variedade de ingredientes ativos usados, o aumento da quantidade de adubos hidrossolúveis e a perda de espécies/variedades caboclas.

Análise dos impactos sobre o conhecimento, capacitação e político-institucional

A Tabela 4 sumariza os coeficientes de alteração de indicadores relacionados a conhecimento, capacitação e político-institucionais. A seguir tecem-se alguns comentários pertinentes vinculados a estes aspectos.

Impactos sobre o conhecimento

Em termos de geração de novos conhecimentos e grau de inovação, o programa de melhoramento de trigo trouxe contribuições expressivas. O emprego de modernas metodologias de melhoramento e de técnicas biotecnológicas nas atividades de avaliação, seleção e criação de novos genótipos, permitiu acelerar, simplificar e tornar mais eficiente o processo de obtenção de novas cultivares. Em 2004, a Embrapa Trigo lançou sua primeira cultivar obtida por gimnogênese, ou seja, do cruzamento trigo x milho, fruto da incorporação de métodos biotecnológicos ao melhoramento convencional de trigo. Podem-se citar as seguintes contribuições: redução (para dois anos) o tempo de criação de novas linhas, com especificação antecipada do potencial de uso final do produto econômico, por meio da adoção de ferramentas biotecnológicas, como a haplodiploidização e avaliação por marcadores protéicos para qualidade tecnológica; avanço nos aspectos de qualidade tecnológica do trigo, de resistência a doenças (ferrugem da folha, ferrugem do colmo, giberela e oídio), resistência a germinação na espiga e no conhecimento do comportamento das diferentes variedades em diferentes condições agroclimáticas.

A instituição possui intercâmbio com diversos órgãos de pesquisa nacionais e internacionais, como o CIMMYT e CIGIAR.

Inúmeros artigos técnico-científicos e teses foram desenvolvidos a partir do programa de melhoramento de trigo e com a introdução de técnicas biotecnológicas no processo de melhoramento.

Impactos sobre a capacitação e aprendizagem

Para desenvolver as cultivares de acordo com as exigências de mercado foi essencial o relacionamento com o ambiente externo (realização de seminários do trigo com a participação de diferentes segmentos da cadeia do trigo), bem como desenvolver a formação de parcerias, como por exemplo a parceria com a Fundação Pró-Sementes de Apoio a Pesquisa, para executar as ações de pesquisa. Durante este período, profissionais do grupo de pesquisadores e alunos de graduação e pós-graduação foram capacitados por meio de estágios, trabalhos de dissertação e teses, bem como, participação em cursos e treinamentos de curta duração e em eventos científicos.

Impactos político-institucionais

Em termos de alterações organizacionais e de relações institucional ou político podemos citar: o estabelecimento de cooperação público-privada na geração de novas cultivares de trigo melhorando a capacidade de captar recursos e otimizar os testes de Valor de Cultivo e Uso (VCU); influência em orientações de políticas públicas, como legislações para trigo (instruções normativas de regulamentação de identidade e qualidade de trigo para o Brasil) e auxílio em discussões da Câmara Setorial de Cereais de Inverno.

O programa de melhoramento de trigo conta com a parceria e envolvimento de sete unidades da Embrapa (Embrapa Trigo, Embrapa Soja, Embrapa Clima Temperado, Embrapa Agropecuária Oeste, Embrapa Agroindústria de Alimentos, Embrapa Cerrados, Embrapa Arroz e Feijão e Embrapa SNTs), além de parcerias com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS, Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo -CIMMYT, Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, Fundação de Apoio a Pesquisa Pró-Sementes, Fundação Meridional de Apoio à Pesquisa Agropecuária e a Fundação Estadual Universidade de Rio Verde -FESURV.

Análise agregada

As variedades de trigo lançadas no período de 1986-2006 têm expressiva contribuição na diversidade de variedades e maior potencial produtivo e genético; adaptabilidade às diferentes condições edafoclimáticas regionais, na redução de perdas de lavoura, redução de custos e redução de manejos prejudiciais ao ambiente (redução de aplicações de agroquímicos); e na melhor qualidade tecnológica para indústria (em especial em características reológicas como qualidade de glúten, vitrosidade de grãos, tenacidade e resistência a germinação na espiga), propiciando a segmentação de tipos de grãos de acordo com especificações de produto aumentando a competitividade do complexo tritícola e expansão de área de cultivo

Os constantes aumentos de produtividade das cultivares lançadas pela melhor adaptação a características regionais e incorporação de resistência a doenças permitem a geração de um adicional de valor econômico para os produtores e a manutenção e geração de postos de trabalho.

As tecnologias desenvolvidas apresentam efeito positivo do ponto de vista social. Os principais impactos das cultivares desenvolvidas são em termos de renda (ganho adicional, diversidade de fonte de renda e diferenciação de valor no preço de comercialização), de emprego (oferta de emprego e indução da capacitação técnica), e de saúde (garantia de produção e no aumento da quantidade produzida).

De uma maneira geral, as novas cultivares tem contribuído positivamente com o ambiente pela redução na toxicidade dos pesticidas utilizados; redução na necessidade de calagem; e efeitos auxiliares na redução de erosão e perda de matéria orgânica e recuperação de solos degradados. Como pontos negativos da sua aplicação têm-se o aumento da variedade de ingredientes ativos usados, o aumento da quantidade de adubos hidrossolúveis e a perda de espécies/variedades caboclas, menos produtivas, entretanto, mais adaptadas as regiões de produção.

A obtenção de cultivares através de linhagens “duplo-haplóides” possibilitou a redução no tempo de criação de novas linhas em dois anos. O intercâmbio e a interação de conhecimentos e a consolidação de parceria público-privada na geração de cultivares são pontos positivos no desenvolvimento do conjunto de cultivares de trigo.

Materiais bibliográficos relacionados

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