Dezembro, 2007
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Passo Fundo, RS

Pragas ocasionais em lavouras de soja no Rio Grande do Sul

José Roberto Salvadori1
Paulo Roberto Valle da Silva Pereira1
Beatriz Spalding Corrêa-Ferreira2

Insetos e outros pequenos invertebrados fitófagos só são considerados pragas agrícolas quando ocorrem em níveis populacionais que causem prejuízo efetivamente, ou seja, que tenham potencial para causar perdas cujo valor supere o custo total da operação de controle. A partir desta premissa, os organismos fitófagos associados à produção vegetal podem ser classificados em pragas-chave (ou principais), aquelas que geralmente exigem a adoção de medidas de controle, e pragas secundárias, aquelas que apenas ocasionalmente atingem nível populacional que justifica o controle.

A cultura da soja serve de alimento e de abrigo para dezenas de espécies de insetos, ácaros, moluscos e diplópodes, as quais podem ser englobadas na denominação genérica de pragas-de-soja. No Rio Grande do Sul, pela abrangência geográfica e pela freqüência com que ocorrem, os percevejos pentatomídeos, a lagarta-da-soja e o tamanduá-da-soja podem ser considerados pragas-chave. As pragas secundárias da lavoura de soja variam muito com a região e, como a própria denominação sugere, com a estação ou o ano.

O fator alimento geralmente está por trás do aparecimento de novas espécies de pragas na cultura, resultante de um processo adaptativo em função da diminuição ou mesmo da supressão do substrato alimentar natural. Embora o aparecimento de novas pragas em uma cultura possa ser percebido “de uma hora para outra”, não caracteriza um surto, pois é resultante de um processo de crescimento populacional gradual. Uma “nova praga” poderá, a partir de sua constatação, permanecer em níveis insignificantes ou então desenvolver populações que venham lhe dar o status de praga principal, de forma mais ou menos constante, ou de praga secundária.

Alterações no manejo das culturas e/ou do solo ou, de forma mais ampla, no sistema de produção como um todo, também podem exercer efeito determinante na dinâmica de pragas (novas pragas e/ou surtos de pragas secundárias) na medida que interfiram nos fatores causais primários (substrato, inimigos naturais e clima). Um exemplo disto é o efeito da adoção de sistemas de produção conservacionistas, como o plantio direto, de rotações e sucessões de culturas, de safrinhas e de preservação de cobertura morta sobre o solo (palha).

Neste texto são abordadas, sob o título de pragas ocasionais, em muitos casos de forma superficial devido à carência de informações e em outros com um pouco mais de detalhamento, tanto organismos já reconhecidos como pragas eventuais (pragas secundárias) como aqueles que têm aparecido recentemente (“novas pragas”), em associação com a cultura da soja no Rio Grande do Sul.

Adotando-se um conceito particular de “pragas”, são considerados neste trabalho insetos e outros pequenos invertebrados (ácaros, lesmas, caracóis e milípodes) que se alimentam das plantas de soja.

A intenção dos autores é reunir e ofertar um conjunto de informações, geralmente esparsas e que circulam apenas verbalmente, que sirvam de subsídios a assistentes técnicos e produtores de soja para identificação das pragas e, principalmente, para a tomada de decisões de controle. Para facilitar a identificação das espécies, evitaram-se longas explicações sobre a caracterização morfológica e descrição das mesmas, em favor do uso de fotografias que passem aos leitores estas informações, diretamente. Além da identificação dos insetos, tanto a vistoria das lavouras como o monitoramento dos insetos-praga são necessários e de grande importância, pois auxiliarão o produtor na tomada de decisão das medidas de controle.

Com relação a inseticidas, diante da falta de informações de pesquisa em alguns casos, optou-se por não sonegar eventuais conhecimentos resultantes de observações em nível de campo. Todavia, ao mesmo tempo, decidiu-se não mencionar nomes técnicos e nomes comerciais, uma vez que não se trata de um texto de recomendações ou indicações de uso. A escolha de inseticidas e de métodos de aplicação deve considerar o registro de produtos no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e as indicações das comissões regionais de pesquisa de soja, especialmente da Comissão de Pesquisa de Soja da Região Sul (Reunião, 2007).


1Pesquisador, Embrapa Trigo. Rodovia BR 285, km 294, Cx. P. 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil.
2 Embrapa Soja.

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