Dezembro, 2007
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Passo Fundo, RS

 

Larvas rizófagas

Formas jovens (larvas) de diversas espécies de coleópteros alimentam-se de raízes de soja, destacando-se os corós e os gorgulhos-da-raiz.

Os corós são larvas de escarabeídeos que apresentam longo ciclo biológico. Constituem um complexo de espécies que vivem no solo, beneficiadas por sistemas de manejo e semeadura que não revolvem totalmente o solo. Dependendo da espécie, consomem raízes, matéria orgânica morta ou fezes, entre outros tipos de alimento. Por isso é importante identificar corretamente as espécies uma vez que nem todas são pragas. Nos sistemas de produção de grãos que envolvem soja no sul do país, as espécies de corós mais comuns são o coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga) e o coró-das-pastagens (Diloboderus abderus). Ambos são pragas principais em trigo e em outras culturas de inverno, entretanto, quando da semeadura de culturas de verão, a partir dos meses de outubro-novembro, as larvas (corós) estão parando ou já pararam de se alimentar, e não mais causam danos. Destas duas espécies, o coró-do-trigo tem sido mais freqüentemente encontrado na cultura da soja, mas mesmo assim de forma eventual como praga de início de ciclo, em plantios mais precoces. Também pode ocorrer, embora de forma ainda mais excepcional, como praga de fim de ciclo da soja, especialmente em cultivares mais tardias. Neste caso, tratam-se de larvas que se desenvolveram no solo durante os meses de janeiro e fevereiro e que, em função do seu crescimento e conseqüente aumento da capacidade de consumo, só vão ser percebidas através de seus danos, nos meses de março ou abril.

Na realidade, a espécie de coró que apresenta maior potencial de dano para a soja é Demodema brevitarsis, denominada de coró-sulino-da-soja. Esta espécie porém, que só recentemente foi registrada em lavouras, apresenta uma restrita distribuição geográfica no Rio Grande do Sul (Salvadori et al., 2006a). Todavia, nas áreas em que ocorre, pode causar danos expressivos, seja pela morte de plântulas que secam após a destruição das raízes, seja pelo comprometimento do crescimento e da capacidade produtiva das plantas que, diante de danos parciais no sistema radicular, sobrevivem ao ataque. Em função de seu ciclo biológico, os corós desta espécie podem danificar a soja nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro (Fig. 1).

Os gorgulhos-da-raiz ou gorgulhos-do-solo também constituem um complexo de espécies de curculionídeos que na fase jovem (larva) vivem associados às raízes de várias plantas cultivadas ou não. Na cultura da soja já foi relatada a ocorrência de seis espécies, sendo cinco pertencentes ao gênero Naupactus e uma ao gênero Pantomorus (Kuss et al., 2007) (Fig. 2).

Na safra 2003/04, foi constatado pela primeira vez na cultura da soja o ataque da larva do cerambicídeo Mysteria darwini (Salvadori & Pereira, 2007). Trata-se de uma larva rizófaga que causou prejuízos expressivos em apenas uma lavoura, em Rio Pardo, possivelmente devido ao fato da soja ter sido semeada em área anteriormente cultivada com acácia-negra, que é hospedeira do inseto (Fig. 3).

A sintomatologia do ataque de larvas rizófagas em soja é caracterizada pelo murchamento de plântulas, o qual pode evoluir para amarelecimento, secamento e morte do vegetal. Em situações onde isto não ocorre, as plantas cujas raízes foram consumidas parcialmente, apresentam diferentes graus de retardo no crescimento e de redução na produção de grãos.

O controle de larvas rizófagas é necessário quando espécies reconhecidamente daninhas atingem níveis populacionais com potencial para causar reduções significativas no rendimento de grãos da cultura. As decisões sobre controle não devem ser deixadas para a véspera do plantio, e sim serem resultantes do acompanhamento das áreas, ano após ano, nas safras e nas entressafras. Para tanto, os passos a serem seguidos são: a) identificação das espécies de larvas rizófagas presentes no solo (se são pragas ou não), b) monitoramento da população destas larvas e dos seus danos e c) aplicação de táticas de controle o mais diversificadas e seletivas quanto possível, quando a população atingir a densidade tolerada (nível de ação ou nível de controle)(Salvadori & Pereira, 2006).


 

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